O fato: O avanço dos programas sociais federais tem impactado diretamente os indicadores de renda das famílias brasileiras e, sobretudo, do Nordeste. De acordo com a mais recente edição da Pnad Contínua, divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (8), o rendimento médio de quem recebe benefícios como o Bolsa Família e o BPC chegou a R$ 836 em 2024. Trata-se do maior valor desde o início da série histórica, em 2012. Em cinco anos, a alta foi de 72,7%.
A pesquisa revela um dado estrutural: 20,1 milhões de brasileiros (9,2% da população) têm nos programas sociais sua principal ou única fonte de renda. Em 2019, esse percentual era de 6,3%. Em 2023, 8,6%. O salto coincide com o redesenho das políticas públicas de transferência de renda nos últimos anos, especialmente após a pandemia.
Dados por região: No Nordeste, os dados mostram com clareza o peso dessa rede de proteção social: 9,4% da renda domiciliar da região vem de programas do governo. A média nacional é de 3,8%. A região Norte vem logo atrás, com 8,2%.
O programa Bolsa Família, carro-chefe da transferência de renda no país, representa aproximadamente um terço da renda social recebida por famílias nordestinas: 34,6%. No Norte, a proporção é semelhante (32,7%).
Essa dependência coincide com os menores rendimentos do Brasil. Entre os 40% mais pobres da população, o valor per capita no Nordeste é o menor do país: apenas R$ 408. No Norte, R$ 444. No Sul, a maior média entre os mais pobres chega a R$ 891.
Impactos: Ainda assim, o impacto dos programas sociais é evidente. Entre 2019 e 2024, o rendimento médio dos beneficiários do Bolsa Família subiu 53,9%, passando de R$ 466 para R$ 717. Entre os que não recebem benefícios, o aumento no mesmo período foi de 13,3%. Mesmo assim, o abismo persiste: quem não recebe Bolsa Família tem uma média de R$ 2.424 por pessoa — mais de três vezes a renda de quem depende do programa.
Detalhes: Para o analista do IBGE, Gustavo Fontes, os dados mostram que o programa cumpre sua função essencial: mitigar a desigualdade e garantir um mínimo de renda aos mais vulneráveis. “O rendimento médio domiciliar per capita dos domicílios que recebiam o Bolsa Família correspondia a menos de 30% daqueles que não recebiam benefício do programa. Então, há uma diferença bastante importante que mostra que o programa tem um foco importante nos domicílios de mais baixa renda.”
Em 2024, pela primeira vez, o IBGE passou a divulgar os programas sociais de forma separada da categoria “outras fontes de renda”, o que permite dimensionar melhor seu peso na economia doméstica das famílias.