
O fato: O consumo de café no Brasil sofreu uma queda expressiva de 15,9% em abril de 2025, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O dado foi divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e revela os efeitos diretos da forte inflação que atinge o setor: o preço da bebida acumulou alta de 80% nos últimos 12 meses, conforme números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No acumulado entre janeiro e abril, as vendas no varejo recuaram 5,13%, totalizando 4,7 milhões de sacas de 60 quilos. Esse volume corresponde ao consumo doméstico via varejo, responsável por cerca de 73% a 78% da demanda interna brasileira por café.
Solúvel lidera alta de preços: Entre os diferentes tipos de café, o que apresentou a maior elevação de preço foi o solúvel, com aumento médio de 85%. O café gourmet ficou 56% mais caro, enquanto o tradicional ou extraforte subiu 50%. Já os cafés especiais e superiores tiveram altas de 42,3% e 29%, respectivamente.
Segundo a Abic, o setor vive atualmente a maior inflação da bebida nas últimas três décadas, consequência de uma combinação de fatores que impactaram a produção e a distribuição do café no país e no mundo.
Problemas climáticos e alta nos custos: A escalada dos preços tem origem, principalmente, em problemas climáticos recorrentes. Ondas de calor e secas severas afetaram a produção brasileira. Em 2023, o estresse hídrico causou a queda prematura dos frutos, prejudicando a colheita subsequente. Esse padrão de adversidades climáticas se repete há quatro anos, encarecendo a produção e reduzindo a oferta.
Além disso, quebras de safra em outros grandes produtores globais, como o Vietnã, agravaram o desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado internacional.
Guerra encarece logística e exportações ganham força: Outro fator que impulsionou a inflação do café foi o aumento nos custos logísticos, decorrente das guerras no Oriente Médio, que elevaram o preço dos fretes internacionais e dos contêineres utilizados para exportação. O impacto dessa conjuntura global elevou o custo final do produto para o consumidor brasileiro.
Paralelamente, a valorização do café brasileiro no mercado externo estimulou o crescimento das exportações, o que reduziu ainda mais a disponibilidade do produto no mercado interno, pressionando os preços para cima.
Custos seguem em alta: Apesar da disparada nos preços, a Abic destaca que a indústria ainda não repassou totalmente os aumentos ao consumidor final. Entre 2020 e 2024, o custo de produção subiu 224%, enquanto os preços ao consumidor cresceram 110%. A expectativa da entidade, manifestada ainda em fevereiro deste ano, é que novos reajustes continuem sendo implementados gradualmente ao longo dos próximos meses.