
Caso Mauro Cid escancara a seletividade da política — agora silenciada pela esquerda, mas praticada historicamente também pela direita. Isso considerando os pontos de vista a partir de prisões e delações premiadas que marcam a política brasileira nos últimos de anos.
O que está em jogo
A virada de percepção sobre a delação premiada ficou escancarada no caso Mauro Cid. Antes criticada com veemência por setores da esquerda e por juristas garantistas, a colaboração premiada agora é tratada com normalidade — desde que atinja os alvos certos.
A mudança de tom
Cid alterou cinco vezes o conteúdo de sua delação entre 2023 e 2024. O que começou como relatos neutros, virou denúncia grave contra Bolsonaro, Braga Netto e o núcleo bolsonarista.
Áudios, contradições, pressões e “últimas chances” dadas pelo STF não impediram a validação do acordo.
Silêncio dos antigos críticos — inclusive garantistas — virou a regra.
Mas não é só a esquerda
A seletividade não é monopólio de um lado. Durante a Lava Jato, enquanto as delações atingiam o PT, setores da direita aplaudiram a prática sem levantar questionamentos sobre abuso, coerção ou legalidade.
Quando os alvos mudaram de lado, mudaram também os discursos.
Entre linhas
O mesmo modelo de delação que foi taxado como “tortura psicológica institucionalizada” agora é elogiado como avanço democrático.
A seletividade é estrutural — e compartilhada entre os polos que disputam o poder no Brasil.
Aspas que sumiram
No áudio à Veja, Cid dizia estar sendo pressionado pela PF a falar “coisas que não aconteceram”. Depois, chamou de desabafo. Nenhum pedido de nulidade. Nenhum manifesto garantista.
No radar
O STF homologou os termos. A delação de Cid embasou denúncias e transformou aliados de Bolsonaro em réus.
Braga Netto, preso preventivamente, é acusado com base em versões que Cid reformulou ao longo de um ano e meio.
Aspas do STF
“O delator foi a cada hora acrescentando uma novidade”, criticou Luiz Fux — e, mesmo assim, votou pela abertura das ações penais.
Tradução
Delação boa é a que atinge o outro lado. Quando é contra mim, é abuso. Quando é contra o inimigo, é justiça.