O princípio da soberania é inegociável: cada Estado tem o direito de decidir quem julga, quem pune, quem absolve, sem intromissão externa. Quando uma embaixada estrangeira comenta ou pressiona sobre decisões judiciais, ela atropela esse princípio.
Imagine o inverso: se o Brasil emitisse uma nota oficial condenando o perdão que Trump deu aos invasores do Capitólio — gente que depredou o Congresso dos EUA —, Washington reagiria duramente. Seria visto como violação da autonomia política norte-americana.
⚖️ O exemplo do Capitólio expõe o duplo padrão
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O ataque de 6 de janeiro de 2021 foi um atentado real à democracia dos EUA, assim como o 8 de Janeiro no Brasil.
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Trump, dentro das regras institucionais, perdoou quem participou. É um ato controverso, mas é a história que os americanos estão escrevendo.
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Cabe aos EUA debaterem se isso destrói ou não sua democracia — não a outros países condenarem formalmente.
🎯 Por que é “tiro no pé” diplomático?
Quando a Embaixada dos EUA rotula o processo contra Bolsonaro como “perseguição política”, faz três coisas:
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Fere a independência do Judiciário brasileiro, pilar de qualquer democracia.
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Abre espaço para retaliações indiretas, como entraves comerciais, tarifas ou desgaste em fóruns multilaterais.
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Não resolve nada para o bolsonarismo — que segue réu —, apenas reforça a impressão de que precisa de tutela externa.
🚩 Erro estratégico do bolsonarismo
O bolsonarismo comete um erro grave ao endossar esse caminho de Trump.
A maior parte do povo brasileiro — que votou em projetos democráticos de centro e centro-esquerda — não tolera interferência estrangeira em assuntos internos.
Pior ainda: se esse alinhamento resultar em ações dos EUA contra o Brasil no campo econômico, como retaliações tarifárias ou pressões comerciais, o custo político recairá sobre o próprio bolsonarismo, que será visto como o fator de instabilidade.
✅ Resumo de ciência política
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Cada país faz sua história, dentro da sua Constituição e de suas instituições.
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O princípio de autodeterminação dos povos garante que cada nação escolha seus caminhos — inclusive perdoar ou punir quem ataca sua democracia.
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Intromissões externas custam caro, politicamente e economicamente. Quem as estimula aqui dentro pode até ganhar manchete, mas perde legitimidade com a maioria democrática.