
O Senado francês aprovou uma lei que endurece regras contra o fast fashion, mirando marcas como Shein e Temu. O texto, apelidado de “Lei Anti Fast Fashion“, ainda será analisado por uma comissão mista em setembro. Enquanto Europa e EUA impõem barreiras, o Brasil se consolida como destino estratégico dessas empresas.
O que prevê a lei
Aprovada por ampla maioria (337 a 1), a proposta inclui:
- Taxa ambiental de até €10 por peça até 2030, começando com €5 em 2025;
- Proibição de publicidade, inclusive com punições a influenciadores;
- “Eco-score” obrigatório para cada item;
- Multas de até €100 mil por infração.
O pacote tenta conter o consumo desenfreado de roupas baratas com alto custo ambiental e baixa transparência produtiva.
Três frentes de ameaça
Segundo a ministra Agnès Pannier-Runacher, o fast fashion incentiva o consumo excessivo, degrada o meio ambiente e sufoca a produção local. A proposta, da deputada Anne-Cécile Violland (Horizons), se alinha às metas europeias de responsabilidade socioambiental.
A Shein reagiu afirmando que a medida transfere ao consumidor o peso da sustentabilidade. Mas a pressão pública e política dificulta qualquer recuo.
Nos EUA, críticas crescem
Shein e Temu também enfrentam investigações nos EUA por evasão fiscal, suspeitas de trabalho análogo à escravidão e uso abusivo da isenção de até US$50 para importações. Parlamentares tratam essas plataformas como ameaça à indústria local e ferramenta de influência chinesa.

Brasil vira principal aposta
Com a resistência crescente nos mercados ocidentais, as plataformas asiáticas voltam seus olhos para a América Latina. E é no Brasil que elas encontraram o terreno mais fértil. Em declaração recente, Felipe Feistler, country manager da Shein no Brasil, afirmou que “o país é um dos mercados mais estratégicos para a operação global da companhia”.
A estratégia de crescimento passa pela criação de lojas temporárias (pop-ups) em capitais. Na última delas, Goiânia, mais de 10.500 pessoas visitaram a loja em apenas cinco dias, com 77% do estoque vendido. O modelo mistura experiência física com ativações digitais, como lives de venda, distribuição de brindes e parcerias sociais locais. Tudo isso sem enfrentar regulação ambiental, fiscal ou trabalhista equivalente às europeias.
Regulação frouxa
A ausência de políticas públicas sustentáveis favorece o avanço da Shein no Brasil. Sem exigência de relatórios, com isenções tributárias e pouca fiscalização trabalhista, o país se torna um paraíso regulatório. Enquanto o Norte impõe regras, o Sul consome — e o Brasil ocupa o papel de entreposto da moda descartável.
O que está em jogo
Mais do que uma disputa sobre roupas, a ofensiva francesa revela um embate entre dois modelos: um voltado à regulação ambiental e outro à liberalidade irrestrita. O Brasil, por ora, está do lado permissivo — mas por quanto tempo isso será sustentável?
Shein e Coteminas: promessas e fracassos
Em 2023, a Shein firmou acordo com a Coteminas, de Josué Gomes da Silva, presidente da FIESP e filho do ex-presidente José Alencar nas gestões Lula 1 e 2. A empresa mineira recebeu um crédito de US$20 milhões para capital de giro, mas o projeto naufragou com a recuperação judicial da Coteminas, que acumula R$1,1 bilhão em dívidas.
Metas não cumpridas
A meta de nacionalizar 85% das vendas até 2026 está longe de ser atingida. A previsão era de 2.000 fornecedores locais. Em 2025, apenas 300 a 336 fábricas parceiras operavam no país. A plataforma de marketplace, com 30 mil vendedores, responde por 60% das vendas — com projeção de 50 mil sellers até o fim do ano.
Críticas ao benefício fiscal
Entidades do setor têxtil (como Abit e Fiemg) criticam o programa Remessa Conforme, que isenta de imposto compras internacionais de até US$50, favorecendo importações e prejudicando a produção brasileira.