O fluxo cambial do Brasil encerrou 2024 com uma saída líquida de US$ 15,918 bilhões, marcando o terceiro maior déficit anual na série histórica do Banco Central. Esse resultado foi superado apenas em 2019 (US$ 44,768 bilhões negativos) e em 2020 (US$ 27,923 bilhões negativos). Mesmo com um positivo fluxo de comércio exterior, a forte pressão no segmento financeiro, que levou o Banco Central do brasil a realizar leilões cambiais entre 12/dez/2024 e 27/dez/2024, foi o principal elemento de drenagem da moeda norte-americana.
Segundo a análise elaborada pelo contribuidor do Focus Poder, Alípio Leitão, Sócio Fundador e Economista-Chefe da INVESTDADOS ANALYTICS, o saldo das reservas internacionais que começou o mês de dezembro/2024 com USD 363,003 bilhões, encerrou o ano passado com um saldo de USD 329,730 bilhões, que indica uma redução de USD 33,27 bilhões (sendo USD31,06 bilhões de volume de saída efetiva e uma redução de USD 2,21 bilhões gerada pelo efeito de mark to market das aplicações em títulos amercianos dessas divisas brasileiras).
Destacam-se os dois principais segmentos desse fluxo cambial:
1. Segmento financeiro: Englobando operações como investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucros e dividendos e pagamentos de juros.
- Resultado negativo de US$ 84,396 bilhões, com:
- Compras: US$ 589,989 bilhões.
- Vendas: US$ 674,385 bilhões.
2. Comércio exterior:
- A economia brasileira apresentou um Superávit Comercial de US$ 68,478 bilhões, originado por um volume de saída de US$ 229,978 bilhões, registrados nas importações, e de US$ 298,456 bilhões, em exportações, distribuídas entre: US$ 33,150 bilhões (Adiantamento de Contrato de Câmbio); US$ 73,745 bilhões (Pagamento Antecipado); e US$ 191,561 bilhões (outras entradas)
Análise e impacto
O saldo negativo no fluxo cambial em 2024 destaca o impacto de fatores externos e internos, como a redução na entrada de capital estrangeiro e a maior pressão sobre o dólar devido a incertezas globais. Ainda assim, o superávit comercial reflete a resiliência do Brasil como exportador global, com destaque para commodities e bens industriais.
Segundo Alípio Leitão, esses números preliminares, que consideram o período entre 27 de dezembro e 1º de janeiro, serão consolidados na próxima quarta-feira, 8 de janeiro, quando o Banco Central divulgará os dados referentes aos dias 30 e 31 de dezembro, e apenas no final de janeiro é que abrirá as especificidades das contas cambiais.
O que observar
A continuidade da saída de dólares em 2024 pode pressionar a taxa de câmbio e influenciar as decisões de política monetária, além de impactar diretamente o custo de captação de recursos externos para empresas e governos.
Novos leilões serão esperados, caso o fluxo de saída se intensifique com saídas diárias acima dos USD 1,5 bilhões diários. O mês de janeiro é sazonalmente um período em que se esperam poucas remessas, mas o advento do novo governo norte-americano, a partir do dia 21, pode ser um elemento de supresa para os mercados. Vale salientar que já estão sendo indentificados movimentos de desvalorização das diversas moedas asiáticas, frente ao dólar, principalmente o Renminbi Chinês, indicando uma possível estratégia de antecipação e compensação da futura sobretaxação de suas exportações para os USA, como anunciado pelo futuro Presidente Donald Trump.