O fato: Os filmes de curta-metragem produzidos no Estado têm seu espaço garantido na terceira edição do Sinistro Fest – Festival Internacional de Cinema Fantástico do Ceará, que acontece até o dia 13 de outubro, no Cineteatro São Luiz. A mostra competitiva Ceará Sinistro reúne sete produções locais selecionadas pela curadoria.
Diretores: Competem ao troféu os filmes dos seguintes diretores: Crayon, de Juno e Becca Lutz; O Feliz Aniversário do Meu Pai, de Aparecido Santos e Tiago Maia; Quando Meus Lábios Sagrados Disseram Palavras Secretas, de Ariza Torquato, Briar e Kaye Djamillá; O Verbo, de Juliana Craveiro e Lucas Souto; Ártemis, de Victor Emanuel Borges e Maria Tamires; Enquanto as Velas Estão Acesas, Meu Coração Está em Chamas, de Gabriel Oliveira; e Seis Léguas e Pouco, de Miro Faheina.
“Há curtas bem expressivos em 2024, com tendência para o horror psicológico”, adianta a curadora Beatriz Saldanha. “Além da mostra internacional e nacional, temos a cearense, que nos permite escoar filmes produzidos nos últimos anos no Estado”, afirma. Ela destaca ainda a importância dos centros de formação audiovisual, como a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Porto Iracema das Artes – equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM).
Drama psicológico aborda a questão da disforia de gênero: As diretoras de Crayon, Juno e Becca Lutz, realizaram o Percurso Básico em Audiovisual da Escola Porto Iracema das Artes, onde desenvolveram a obra selecionada para o III Sinistro Fest. O curta-metragem é um drama híbrido, que conta com animação, sobre uma artista trans que usa seus desenhos como refúgio, mas acaba sendo perseguida por seu autorretrato, após o mesmo ganhar vida.
“Crayon surgiu a partir da ideia de retratar o sentimento experienciado por muitas pessoas trans, que é disforia de gênero. Esse desconforto e angústia em relação ao gênero que a pessoa atribui a si mesma e ao gênero que lhe foi designado ao nascer”, explica Juno, que também é idealizadora do projeto, criadora das animações e desenhos. “No entanto, o filme também alcança questões como relações familiares, o desencontro, a busca e o encontro de si, explorando essas questões a partir da relação entre a protagonista Mel e Crayon, seu alter ego”, acrescenta Becca.
Gravado em apenas três dias, em Fortaleza, contando com uma equipe local composta por 24 pessoas, a produção enfrentou diversas adversidades. “Tivemos vários desafios comuns ao cinema independente, como a questão financeira e uma equipe de produção reduzida. O convívio em um set pequeno também se tornou uma questão, pois a equipe era formada por pessoas muito diversas com necessidades diferentes umas das outras, mas com muito respeito, coletividade, foco e confiança na ideia do projeto, foi possível realizá-lo”, revela Drica Marques, á frente da produção executiva e geral.
O filme participou da Mostra Preamar da Escola Porto Iracema das Artes, como parte da conclusão do projeto, e do 18º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero, concorrendo à Mostra Cearense de Curtas Metragem.
Estreia no Sinistro Fest: Com a direção de Kaye Djamiliá, Ariza Torquato e Briar, o curta Quando Lábios Sagrados Disseram Palavras Secretas estreia no III Sinistro Fest. Assim como Crayon, ele participou anteriormente da Mostra Preamar da Escola Porto Iracema das Artes, como parte da conclusão do projeto da formação em audiovisual.
“Estamos muito felizes de poder participar de um festival na nossa cidade e que tem como tema central o filme de horror. Sinistro é nosso primeiro festival e é uma honra estar na tela do Cineteatro São Luiz ao lado de tanta gente da cena do audiovisual cearense”, comemora Ariza.
A narrativa apresenta Maya, que após a morte da mãe, entra em um processo depressivo. Na tentativa de se curar, resolve passar um tempo na casa da avó, Antônia. Ao chegar lá, é cercada pelos hábitos e símbolos da religião da avó, percebendo que algo estranho permeia a família. Maya começa a sofrer alucinações, uma onda de horror cresce em sua vida e Antônia a convence a se batizar. Sem ver outra alternativa, Maya aceita. Mas Antônia ainda parece guardar um segredo.
A idealizadora, roteirista, atriz protagonista e diretora, Kayé Djamiliá, revela que a origem do filme se confunde com a sua. “A história vem da minha nascença e infância no Crato e zona rural da região do Cariri, e da minha relação com a minha avó materna, uma rezadeira que não se conformava com o fato de meus pais não terem me batizado”, diz.
A diretora complementa: “Na reconstrução da memória, que é também um exercício de imaginação e ficcionalização, as imagens daquela vó com suas rezas cochichadas, dos Caretas que batiam de porta em porta, da casa escura cheia de santos e velas, e da falta de batismo anunciada como uma maldição, tornaram-se imagens de assombro que me inspiraram na criação desse filme”.
Sobre o festival: O III Sinistro Fest é promovido pelo Ministério da Cultura e KW1 Filmes, com patrocínio do Banco do Nordeste do Brasil, através da Lei de Incentivo à Cultura, e apoio institucional do Cineteatro São Luiz, por meio da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). O festival promove rodas de conversa e feira de economia criativa, além da exibição de filmes do universo fantástico, que vão da Fantasia ao Suspense, passando pela Ficção Científica e pelo Terror. O evento tem se consolidado no calendário cultural da cidade como ponto de encontro de diretores, produtores, atores e atrizes, técnicos, distribuidores e amantes do gênero fantástico em geral.