
Esta semana, perdi um amigo e o Ceará perdeu um grande homem: Maurício Xerez. Nos conhecemos na juventude, quando nos encontrávamos com frequência na fazenda de Irauçuba da minha tia Zilmar, irmã de minha mãe. Na época, apesar da diferença de idade de 10 anos entre nós, mantínhamos uma amizade e boa sintonia, que se estendia também aos meus país. Em 1973, Maurício era considerado um partidão – jornalista, marchand, um intelectual que circulava bem em todas as áreas e namorava minha prima Lena Vidal Marcílio, com quem viria a se casar.
Mas a vida, generosa em encontros, ainda nos juntaria de novo. Já em Brasília, em plena lua de mel, sofreu um acidente de trânsito e foi passar uns dias em nosso apartamento. Como sempre, ele não largava seus quadros e estava com várias telas do pintor Chico da Silva, que se destacava com sucesso nas artes plásticas cearense. Na ocasião, ele me perguntou se gostaria de vender algumas das obras para as esposas dos deputados e tive a ideia de oferecer os quadros nas embaixadas. Convidei um amigo meu, Eustáquio, para sócio na empreitada. Seu pai era vice-presidente da Câmara dos Deputados à época e acabou dando certo. Vendemos todos os quadros. Ali, vi outro lado de Maurício: o marchand, o homem que sabia reconhecer beleza, talento e potencial. Sua sensibilidade era refinada, uma mistura rara de faro jornalístico com o olhar apaixonado de quem vê arte onde os outros só veem cor.
Maurício foi muito mais do que apenas um jornalista. Foi um visionário. Escolhido a dedo por Edson Queiroz para liderar a implantação do Diário do Nordeste em 1981, mostrou-se não só um comunicador de excelência, mas um construtor de legados. Também foi vice-prefeito de sua amada Ipu, plantou uvas em sua terra natal com o mesmo cuidado com que plantava ideias — e colheu, ao longo da vida, o respeito e admiração de todos que cruzaram seu caminho.
Aos seus filhos, Irma e Rafael, fica o maior exemplo: o de um pai íntegro, trabalhador, com caráter à prova do tempo. Vocês tiveram, e ainda têm, muito orgulho do homem que ele foi. Honrar sua memória é seguir o caminho que ele traçou com tanto amor e dedicação.
Maurício era artista por dentro. Pintava a vida com coragem, com emoção, com propósito. Tinha o coração grande e o pensamento inquieto. Um desses seres raros que deixam uma marca em tudo que tocam.
Hoje, quando penso nele, não penso na dor da perda, mas no privilégio do encontro. De termos cruzado caminhos em momentos tão ricos da vida. E de saber que, onde quer que esteja, ele segue com a tranquilidade de quem viveu como poucos: intensamente, com elegância e verdade.
Vai em paz, Maurício. Irauçuba, Ipu, Fortaleza, Brasília e o Ceará inteiro ainda ouvirão o eco do que você foi. E nós, que tivemos a sorte de conhecê-lo, vamos carregar para sempre a sua memória.
Luiz Pontes foi presidente da Assembleia, senador e secretário de Estado.