O falso amor sincero. Por F J Caminha

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Francisco Caminha é escritor, advogado, especialista em Ciência Política e servidor público. Foto: Divulgação

Os jogos de interesses na conquista do Poder de nossa insalubre democracia encapsulam o efeito paradoxal registrado no samba do magistral compositor carioca Nelson Sargento. A música se chama:
“O Falso Amor Sincero”.

A letra diz que: o nosso amor é tão bonito que ela finge que me ama e eu finjo que acredito. Vamos pontuar fatos e começamos logo com as prestações de contas eleitorais, o candidato finge que obedece a lei, a justiça finge que acredita e depois ambos se abraçam na diplomação dos eleitos com elogios e confraternizações. Realmente é como um lindo falso amor sincero.

Nas eleições da capital de São Paulo o Pablo Marçal trouxe para o palco da disputa política uma avalanche de mentiras, afinal, nesse campo ele é um autêntico especialista. O que me impressiona nele é a capacidade de ser sincero mentindo e os eleitores dele fingindo acreditar crendo. Só vou pontuar uma delas que é a construção de teleféricos para resolver o problema do trânsito. Realmente essas falsas promessas sinceras o fez crescer nas pesquisas.

Na interpretação do pensamento de Maquiavel as mentiras fazem parte da estratégia da conquista do Poder e o povo sabe disse e finge que acreditar nelas. Na verdade, é complexa a decisão do voto, depende de conteúdos emocionais, financeiros e ideológicos. Eu mesmo me penitencio, uma vez prometi votar em um candidato e votei no outro. O eleitor de certa forma se assemelha a uma meretriz cobra do cliente e dá de graça para quem ama.

Este jogo de aparências leva a uma desconexão entre o prometido e o realizado depois da eleição. Veja a eleição deste ano em Fortaleza, o atual prefeito é um idoso frio, sem carisma e calculista, mas o “marketing” está o envelopando numa pegada de maquiagem jovem, até cantor e dançarino ele se tornou. Como diz um amigo para ganhar eleição a gente como até merda e tem que engolir sapos podres e arrotar flores perfumadas.

Será que o povo acredita? E as promessas não cumpridas é culpa de quem?

Vejamos o caso da criação da famigerada taxa de lixo de Fortaleza no qual existe um sofisma, ou seja, uma falsa verdade. O prefeito finge que não criou a taxa do lixo e em sua defesa afirma que já estava criada pela lei nacional do Saneamento e acusa o Wagner de ser o criador por ter votado. Afinal, os vereadores de Fortaleza aprovaram a lei municipal enviada pelo atual prefeito. Quem o eleitor vai acreditar? Será culpa do Sarto?

O falso amor sincero de uma eleitora minha chamada Helena do bairro de Dias Macedo me chamou atenção. Recebeu dinheiro por dois meses de um candidato a diz que votou comigo e quando perguntei o motivo. Ela olhou para mim e disse: no meu quarto ele nunca entrou e quando preciso é você que me ajuda.

A eleição é tão bonita que o eleitor finge que vai votar e na urna vota no outro. A pergunta final é essa: quem vai ter a preferência no amor no dia da eleição?

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