PDT: um partido na UTI

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Caso consiga vencer a eleição para a capital no próximo ano, com a reeleição pouco provável do prefeito José Sarto, que se notabilizou pela arte de se tornar invisível, ou um remake de sucesso com Roberto Cláudio, a ala do PDT que faz oposição à frente progressista liderada pelo PT do governador Elmano de Freitas receberá o bônus de uma sobrevida. Caso contrário, o suicídio partidário estará consumado.

A caminho da indesejável rota da judicialização, o partido no Ceará continua lavando roupa suja na calçada onde passa o cidadão comum, que não consegue perceber em tudo aquilo nada além de “uma briga de comadres pelo poder para, em breve, se reconciliarem em torno de seus interesses, e não dos nossos.” – é o senso comum que, certo ou não nesse caso, corresponde fielmente à experiência do eleitor em seu sentimento pendular entre a vaga esperança e a decepção frequente.

A mídia abre generosos espaços para o assunto, tratado como se fora um seriado de ação para ser maratonado, produzido com a boa técnica de transformar a política em espetáculo, alienada de sua razão fundamental. Suas capas se abrem para fotos onde os personagens aparecem contrariados como crianças em disputa pelo amor de uma mãe muito ocupada. Eles se iludem, imaginam que tal exposição de algum modo os beneficiará. Não. Perdem todos. E perde a Política, percebida pelo cidadão comum, uma vez mais, como uma espécie de hérnia de disco, que pode ser tratada, mas não curada.

Os que se vêem ameaçados pelo ostracismo recorrem ao argumento clássico: “Perdemos a eleição, o povo nos delegou a tarefa de fazer oposição”. Porém, esta conjugação na primeira pessoa do plural – “perdemos” – soa demasiadamente ampla para a dissidência informal que apoiou as vitórias de Lula, Elmano e Camilo já desde a chegada dos primeiros tijolos para a empreitada. E assim, senhoras e senhores, uma guerra de narrativas inconclusas, em que as boas regras partidárias foram solapadas antes, durante e depois desse dilúvio caseiro, arrastam o velho PDT para o altar dos sacrifícios.

Se acontecer o pior, não terá sido a primeira, nem a última vez no Ceará em que um partido político se torna uma franquia de grupos no poder para – em seguida, quando os favores cessam – ser descartado na lixeira da história como uma laranja chupada. Há, contudo, um mérito distintivo na ação dos dissidentes que a eles oferece uma vantagem moral: do lado em que se colocam há um projeto político bem definido, de concertação coletiva mais ampla e objetivos mais definidos, enquanto aqueles que erguem barricadas na porta do cartório o fazem tingidos pela marca do ressentimento e sob impacto consequencial de uma decisão anterior desastrada, marcada por um conduta facilmente rotulável como personalista.

É um quadro de traços pitorescos: uns teimam em ficar, porém mudando tudo; outros os impedem de sair, mas não mudam nada (talvez a guerra da Ucrânia encontre solução mais rápida). Enquanto isso, de longe, o cidadão comum talvez pense apenas que essa gente está precisando mesmo é de uma boa missa.

Ricardo Alcântara é publicitário, escritor e colaborador do Focus.

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