O fato: A demanda das empresas por crédito avançou 0,9% em março de 2025 na comparação com o mesmo mês do ano anterior, segundo o Indicador de Demanda das Empresas por Crédito, elaborado pela Serasa Experian. Apesar da quarta alta consecutiva, o ritmo de crescimento desacelerou em relação aos meses anteriores, quando os aumentos foram mais expressivos: fevereiro (13,1%), janeiro (11,3%) e dezembro (5,1%).
No acumulado dos últimos 12 meses até março, a procura por crédito cresceu 4,2%. Para efeito de comparação, a expansão era de 2,9% em janeiro e de 3,9% em fevereiro.
Cautela diante dos juros altos: De acordo com a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, a desaceleração observada em março está diretamente relacionada ao elevado patamar da taxa básica de juros (Selic). “O ritmo mais moderado na demanda por crédito em março reflete um cenário de cautela por parte das empresas diante de desafios como o custo elevado do crédito e as incertezas econômicas provocadas pelo ambiente de juros elevado”, explicou.
Ela destaca, no entanto, que a busca por crédito segue sendo uma ferramenta importante para investimentos e expansão de operações. “O crédito acaba permitindo que esses investimentos aconteçam de forma antecipada e contribui positivamente para acelerar o crescimento das empresas”, completou.
Política monetária e inflação: Desde setembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tem promovido sucessivos aumentos na Selic, que subiu de 10,5% ao ano para os atuais 14,75% ao ano. A elevação tem como objetivo conter a inflação, que acumulou alta de 5,53% em 12 meses até abril — acima da meta do governo, que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O aumento dos juros eleva o custo do crédito e desestimula o consumo, além de impactar diretamente o apetite das empresas por financiamentos. Segundo o BC, o efeito da política monetária sobre a inflação tende a se manifestar com mais força entre seis e nove meses após sua implementação.
Micro e pequenas empresas impulsionam a demanda: O estudo da Serasa Experian aponta que a leve alta na procura por crédito empresarial em março foi puxada pelos micro e pequenos negócios, cuja demanda cresceu 1,1% em relação ao mesmo mês de 2024. Já as empresas de médio e grande porte apresentaram quedas de 4,8% e 4,7%, respectivamente.
Segundo Camila Abdelmalack, para as micro e pequenas empresas, o crédito é frequentemente uma alternativa para manter a gestão financeira equilibrada e honrar compromissos, especialmente em períodos de receita comprometida. “A utilização do crédito está normalmente mais associada a uma alternativa para melhorar a gestão do fluxo de caixa, possibilitando que as empresas mantenham suas operações e obrigações”, afirmou.
Ela pondera, contudo, que a utilização do crédito como alavanca para crescimento tende a ser mais vantajosa em cenários de juros mais baixos, diferente do contexto atual.
Setores: serviços e indústria sobem; comércio recua
Na análise setorial, a procura por crédito avançou principalmente no setor de serviços, com alta de 3,3% em março. A indústria também registrou crescimento, de 2,9%. O comércio, por outro lado, apresentou recuo de 2,5% na busca por financiamentos.
A pesquisa da Serasa Experian foi realizada com base em uma amostra de 1,2 milhão de CNPJs em todo o país.
Volatilidade e incertezas: Para a economista da Serasa, a oscilação recente na demanda por crédito reflete a elevada incerteza em relação ao cenário econômico. “Existem muitas incertezas no cenário econômico que acabam justificando essa volatilidade de uma demanda às vezes um pouco mais forte, às vezes um pouco mais fraca”, avaliou Camila.
Ela acrescenta que, apesar do ambiente de crédito restritivo, muitas empresas — principalmente micro e pequenas — continuam buscando financiamentos como forma de apoio para enfrentar momentos de dificuldade ou para investir, mesmo diante dos juros elevados.