A frase “está em Tel Aviv mais seguro do que está em Fortaleza” pode parecer desconcertante à primeira vista, sobretudo a quem associa Israel a conflitos e tensões regionais. Mas quando se afasta o ruído das manchetes e se observa o cotidiano das ruas, a comparação revela aspectos que merecem ser considerados com seriedade, especialmente no campo da segurança urbana.
Fortaleza, cidade vibrante e de beleza própria, infelizmente figura entre as capitais com os mais elevados índices de violência do Brasil. As estatísticas mostram recorrência de crimes violentos, como assaltos, homicídios e furtos, com impacto direto sobre a rotina dos cidadãos. Em muitos bairros, a sensação de vulnerabilidade não é um estado de espírito, mas uma percepção baseada em vivências reais e repetidas. A presença ostensiva da criminalidade comum impõe um pacto cotidiano de autoproteção. Evita-se caminhar sozinho à noite, reduz-se o uso do celular na rua, aprende-se a conviver com o medo como quem convive com o calor.
E quando o crime deixa de ser pontual e passa a ser espetáculo? Chacinas como as da Grande Messejana, do Curió, do Bairro de Lourdes ou da Sapiranga não apenas mancharam de sangue a história recente da cidade, como escancararam a brutalidade que se repete sem a catarse de um desfecho justo. As ruas, em certos momentos, assemelham-se a um teatro de guerra, mas sem trincheiras, sem sirenes de alerta, sem cessar-fogo. A morte vem de surpresa, a céu aberto, e a ausência de resposta institucional eficiente fortalece a sensação de que a barbárie é parte do cotidiano.
Tel Aviv, por outro lado, mesmo inserida em um contexto geopolítico desafiador, opera com padrões distintos. O crime urbano, na forma em que se manifesta nas grandes metrópoles brasileiras, é consideravelmente mais raro. Caminhar pelas ruas de Tel Aviv — seja de dia ou à noite — não evoca o mesmo estado de alerta. O cidadão médio não sente que está sempre na iminência de ser abordado por um assaltante, tampouco carrega o peso de imaginar que um sinal fechado pode ser uma sentença de risco.
As forças de segurança israelenses atuam de forma integrada e estratégica. Há câmeras, policiamento ostensivo e protocolos de resposta rápida que funcionam como dissuasores. A ordem urbana não é perfeita, mas é visivelmente mais controlada. A educação cívica, o sentimento de pertencimento e a coesão institucional criam uma atmosfera em que a criminalidade comum não floresce como em ambientes onde o Estado é ausente.
É claro que Tel Aviv não está imune a episódios graves, sobretudo os ligados ao conflito mais amplo da região. Mas são eventos excepcionais e, ainda assim, tratados com estrutura, preparo e uma confiança generalizada na resposta do sistema. Fortaleza, infelizmente, convive com o ordinário do crime, aquele que se repete, se espalha e se banaliza.
Não se trata de comparar cidades por gosto ou preferência, mas de reconhecer, a partir da experiência própria, que certos lugares nos devolvem uma tranquilidade que já não sabíamos mais como era sentir. E isso, mesmo que seja apenas uma nuance, muda tudo.
