Texto do excelente site Axios expôs um imbróglio no qual Elon Musk, dono do X, a rede social antes denominada de Twitter, burlou as regras antes estabelecidas pela própria empresa ao republicar uma “paródia” estruturada no deepfake, a tecnologia que utiliza inteligência artificial (IA) para criar vídeos, imagens e áudios falsos que parecem reais.
Ao usar o termo “paródia” o criadores de deepfakes tentam se esconder na ideia de que estão produzindo humor, que evidentemente é protegida pela liberdde de expressão, um componente clássico da democracia norte-americana. A paródia é uma releitura cômica de uma composição literária ou musical que utiliza a estrutura de uma obra anterior, mas a modifica em detalhes para gerar humor.
O fato é que o bilionário Elon Musk recebeu duras críticas por compartilhar na rede social X o vídeo ‘deepfake’ com a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que, segundo ativistas da tecnologia, viola as políticas da própria plataforma. As críticas parecem não funcionar contra Musk. Tanto que sa resposta foi “A paródia é legal na América 🤷♂️”.
O texto assinado pelo jornalista Scott Rosemberg inicia a questão pregando o aviso: À medida que a IA continua refinando sua capacidade de copiar as vozes e imagens em movimento de figuras públicas, os criadores de deepfakes estão recorrendo à defesa de que trata-se apenas de uma paródia. E continua:
Visão geral: a longa tradição de humor político da mídia americana é bem protegida pela Primeira Emenda — permitindo que os cidadãos injetem quase qualquer tipo de ficção ou fraude no diálogo nacional, desde que o rotulem como comédia.
Impulsionando as notícias: na sexta-feira à noite, Elon Musk repostou um vídeo para seus 190 milhões de seguidores no X com overdubs em uma voz falsa que soa como a vice-presidente Kamala Harris.
- O autor original do vídeo, “MrReaganUSA”, o apresentou como uma “PARÓDIA de anúncio da campanha de Kamala Harris”, mas a republicação de Musk removeu esse rótulo e o chamou apenas de “incrível 😂”.
- O vídeo — que usa imagens de um vídeo real da campanha de Harris — mostra Harris se autodenominando “a melhor contratação de diversidade” e descrevendo a si mesma e ao presidente Biden como “fantoches do estado profundo”.
- Não está claro se o áudio falso de Harris foi gerado com IA ou alguma outra técnica.
A reportagem o Axios relatou ainda que “Os usuários rapidamente apontaram que a republicação de Musk parecia violar as regras do X sobre mídia sintética e manipulada e identidades enganosas. Quando o governador da Califórnia, Gavin Newsom, escreveu no X que a postagem de Musk deveria ser “ilegal”, Musk respondeu : “A paródia é legal na América 🤷♂️”.
A reportagem lembra que, até então, “nenhum proprietário ou CEO de uma grande plataforma de tecnologia jamais apoiou um candidato político e depois usou seu púlpito para promover essa campanha usando conteúdo que muitos consideram enganoso”.
O texto aponta que aqueles que confiam na brecha da paródia para proteger seu discurso geralmente argumentam que é “óbvio” que seu trabalho tem a intenção de divertir e não de enganar — e esse é frequentemente o caso. “Programas de IA generativa amplamente acessíveis agora podem criar áudio e vídeo realistas de figuras públicas dizendo e fazendo coisas que nunca disseram ou fizeram”.
- Como resultado, as paródias parecem e soam mais realistas do que nunca — e grande parte do público ainda não ajustou seus medidores de verdade.
- Isso está ampliando a brecha da paródia e transformando-a em uma via expressa para desinformação e falsificação.
Pois é. Podemos aguardar: tais situações vão ocrrer com grande frequência na disputa eleitoral do Brasil. Com uma grande diferença em relação aos EUA: a Justiça Eleitoral no Brasil e, principalmente, a Suprema Corte têm sido duras no combate às postagens contendo fake news e similares. Isso, como forma de proteger a própria democracia.
O problema é que há um linha muito tênue entre a censura pura e simples e o combate às notícis falsas com intenções de prejudicar, enganar e criar confusão no sistema eleitoral.
Detalhe: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estruturou um centro de combate ao que considera ser à desinformação e “deepfakes” usados durante a campanha eleitoral. É o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia (Ciedde), que, segundo a Corte eleitoral, “atuará contra desinformação, bem como os chamados discursos de ódio, discriminatórios e antidemocráticos”.