O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu diretamente à campanha de Donald Trump contra o Judiciário brasileiro, afirmando que, se o ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 tivesse ocorrido no Brasil, o próprio presidente norte-americano seria julgado aqui. A informação foi publicada no londrino The Guardian.
A declaração veio no auge de uma crise diplomática considerada por especialistas como a mais grave em mais de dois séculos de relações entre Brasil e Estados Unidos. Trump impôs tarifas de 50% sobre as importações brasileiras e sancionou um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de ajudar Jair Bolsonaro, seu aliado político, a evitar uma condenação de até 40 anos por tentativa de golpe após a derrota eleitoral de 2022.
O contexto
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Bolsonaro: aguarda decisão do STF nas próximas semanas, acusado de conspirar para manter-se no poder.
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Trump: classificou o julgamento como “caça às bruxas” e pediu às autoridades brasileiras que o interrompessem.
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Ruptura: tarifas e sanções ampliaram a tensão, colocando em risco uma relação diplomática de 201 anos.
O que Lula disse
Durante anúncio de um pacote de resgate a empresas afetadas pelas tarifas, Lula criticou as pressões de Trump sobre os cinco ministros do STF que julgarão Bolsonaro e mais sete acusados:
“O que estamos fazendo é algo que só acontece em países democráticos — julgar com base em provas, testemunhas e presunção de inocência. […] Se o que aconteceu no Capitólio tivesse ocorrido no Brasil, o presidente Trump seria julgado aqui também.”
O presidente também reagiu às críticas dos EUA sobre direitos humanos, contidas no relatório anual do Departamento de Estado:
“Não havia razão para impor tarifas ao Brasil e não aceitaremos que nos digam que não respeitamos os direitos humanos.”
Paralelos e tensões
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Nos EUA, Trump não foi punido por tentar reverter as eleições de 2020 e, ao assumir novamente o cargo, concedeu perdão presidencial a cerca de 1.500 envolvidos no ataque de 6 de janeiro.
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No Brasil, 141 pessoas cumprem pena por participação nos atos de 8 de janeiro de 2023, considerados parte do plano golpista de Bolsonaro.
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Lula lamentou que a relação bilateral esteja sendo “jogada fora” e pediu que os brasileiros não temam a pressão externa:
“As crises existem para que criemos coisas novas. A humanidade criou grandes coisas em tempos de crise.”