O fato: A quatro dias da entrada em vigor das novas tarifas comerciais dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump confirmou neste domingo (27) que a sobretaxa de 50% sobre produtos importados de dezenas de países, incluindo o Brasil, será aplicada sem prorrogação. “O 1º de agosto é para todos”, declarou o republicano, encerrando expectativas de postergação.
A decisão atinge diretamente o agronegócio brasileiro, setor mais afetado pela medida. Segundo estimativa da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o impacto poderá chegar a US$ 5,8 bilhões em perdas nas exportações ao mercado norte-americano, uma redução de 48% em relação a 2024. Produtos como carne, milho, soja, açúcar e, especialmente, suco de laranja, devem sofrer quedas abruptas. Apenas o suco de laranja brasileiro perderá 42% do seu principal destino externo, segundo a entidade.
Governo tenta agir: Apesar da gravidade da medida, os canais de negociação entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e dos EUA continuam fechados. Empresários brasileiros pressionam o Planalto por uma ação diplomática emergencial. A principal demanda é um pedido de adiamento de 90 dias, semelhante ao obtido em abril para tarifas recíprocas.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também responde pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, já sinalizou ao setor privado que tenta articular essa prorrogação. Mas o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, foi categórico: “Não haverá prorrogação nem período de carência. As tarifas entram em vigor em 1º de agosto”.
Ceará: Na tentativa de mitigar o impacto local, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), terá reunião nesta terça-feira (29) com Alckmin, acompanhado pelo secretário da Fazenda, Fabrício Gomes, e pelo procurador-geral do Estado, Rafael Machado Moraes. Também foram convidados os presidentes da Fiec, Ricardo Cavalcante, e da Faec, Almícar Silveira.
O Ceará é, proporcionalmente, o estado que mais exporta para os Estados Unidos. A comitiva incluirá empresários cearenses de setores atingidos pela medida, em busca de alternativas para atenuar o impacto sobre as vendas externas e o emprego industrial local.
Reindustrialização: Desde abril, Trump tem promovido uma agenda agressiva de tarifas como parte de seu plano de “trazer empregos e fábricas de volta” aos EUA. A ofensiva tarifária já gerou ao menos sete acordos bilaterais, incluindo com Reino Unido, China, Japão, Vietnã, Indonésia, Filipinas e União Europeia.
A UE conseguiu reduzir sua tarifa para 15%, após acordo fechado neste domingo entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na Escócia. Como contrapartida, os europeus se comprometeram a comprar centenas de bilhões de dólares em energia e equipamentos militares dos EUA.