Conhecido como xerostomia, o ressecamento da boca pela diminuição ou falta da produção natural de saliva favorece o crescimento bacteriano, a formação de cáries, dificulta a alimentação, digestão dos alimentos, deglutição e até a fala. No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), pacientes diagnosticados com o problema têm atendimento e tratamento especializado no ambulatório de Odontologia, com o uso de saliva artificial.
Coordenador do serviço de Odontologia do HGF, Roberto Rêgo explica que a xerostomia está associada, em grande parte, ao tratamento de outras patologias. “Radioterapia na região da cabeça e do pescoço, remédios ansiolíticos, analgésicos e para pressão alta e depressão, por exemplo, podem ocasionar a diminuição parcial ou total da produção de saliva. Mas há, também, casos resultantes da Síndrome de Sjögren, uma doença autoimune que ataca as células que produzem saliva e lágrimas”, pontua o cirurgião bucomaxilofacial.
Há três anos, José Nilberto Oliveira, de 46 anos, foi diagnosticado com câncer na boca. O tratamento exigiu cirurgia e sessões de radioterapia. “Tirei parte da mandíbula e coloquei a prótese. Fiz radioterapia e, após o tratamento, comecei a sentir a boca seca. Fiquei um ano com incômodo, mas sem saber como buscar solução. Soube da saliva artificial em uma consulta de rotina”, conta o pedreiro, paciente do ambulatório desde abril do ano passado.
Parceria público-privada
O tratamento de pacientes com o uso de saliva artificial acontece há vinte anos no HGF e é fruto do programa de extensão entre a Sesa e a Universidade de Fortaleza (Unifor). “A saliva artificial possui características físico-químicas que promovem melhor aceitação pelos usuários, maior estabilidade e conservação”, explica Regina Dourado, professora do curso de Farmácia da instituição de ensino superior e responsável pela produção do substrato.
Atual diretor de Ensino, Pesquisa e Residência do HGF, Eliardo Silveira é um dos fundadores do programa. O cirurgião bucomaxilofacial conta que a ideia surgiu devido ao aumento de pacientes com sequelas pós-radioterapia de câncer de boca e pescoço. “Os relatos da condição aumentaram, e iniciamos uma busca ativa. Na época, como professor da Unifor, apresentei dados e a ideia para o reitor, que foi prontamente atendida”, relata.
Acesso
O acesso ao serviço de Odontologia do HGF acontece por meio de encaminhamento pela Central de Regulação do Estado. O atendimento no ambulatório acontece de segunda a sexta-feira, das 7h às 16 horas.
“Primeiro os pacientes têm que ter o diagnóstico do problema e, a partir do diagnóstico, ele é incluído ou não no programa de saliva artificial. Depois ele passa a vir semanalmente, às vezes, mensalmente, dependendo da necessidade”, pontua Eliardo.
Atualmente, 40 pacientes recebem frascos de saliva artificial. A entrega acontece às sextas-feiras, no turno da manhã.