Energia Limpa no transporte: Realidades e promessas vazias; Por Dimas Barreira

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A discussão sobre veículos elétricos como solução para poluição precisa ser mais criteriosa. Primeiro, é preciso diferenciar motores elétricos de baterias. Motores elétricos são muito eficientes, enquanto as baterias representam um grande desafio ambiental. Elas são um ‘mal necessário’ na tentativa de viabilizar os veículos elétricos.

Outro ponto crucial é diferenciar emissões locais de globais. Emissões locais, como Material Particulado (MP) e outros, foram drasticamente reduzidas nos veículos modernos. Porém, o tão falado dióxido de carbono (CO2), preocupação global, continua a ser emitido, e isso independe de onde se emite. Veículos elétricos são carregados em tomadas e a produção de eletricidade gera mais da metade do CO2 mundial, principalmente pela própria queima de combustíveis fósseis, incluindo o carvão.

Cabe destacar que enquanto a China sozinha gera mais de um terço de todo o CO2 mundial e segue aumentando à medida que acelera sua industrialização e sua população ascende na capacidade de consumo, no Brasil temos matriz energética muito mais limpa que a média mundial, nos mantendo estáveis há anos abaixo de 5% da emissão do CO2 mundial. Ainda assim, dependemos consideravelmente de usinas termelétricas. Mesmo no Ceará, promissora terra de sol e vento, ainda importamos milhões de toneladas de carvão para gerar energia. Cabe salientar que, apesar da vantagem do Brasil, a produção de energia elétrica aqui também emite significativamente mais CO2 do que todo o setor de transporte de cargas e pessoas.

A ideia de que veículos elétricos são “verdes” ignora essa realidade. Por exemplo, a China, maior emissora de CO2, inaugura usinas de carvão a ritmo alarmante, enquanto promove veículos elétricos como solução ambiental. Na verdade, essa contradição é motivada por um interesse econômico: a China quer um novo padrão de motorização para liderar o mercado automotivo, tradicionalmente dominado por outros países. Adotar veículos elétricos encarece a renovação de frota e atrasa a retirada de circulação de veículos antigos e significativamente mais poluentes.

E mais, o investimento em energia é um dos maiores entraves ao crescimento econômico e à democratização de produtos e serviços. Experiências robustas de eletrificação esbarram nesse gargalo, pois disputam por recursos já muito escassos, tanto quanto à produção de energia quanto à capacidade de distribuição. E mais, é intrigante saber que há recursos esperando demanda para a produção de mais energia renovável. Se queremos reduzir CO2, deveríamos começar a fechar termelétricas a carvão e substituí-las por eólicas e solares. Já temos os estoques das hidrelétricas e mesmo as termelétricas a gás, até que outras soluções apareçam, para enfrentar as sazonalidades improdutivas por falta de vento e sol.

Outra solução de alto impacto é fortalecer o álcool, ampliando sua produção e competitividade frente à gasolina. Na cadeia do transporte, o automóvel é o maior emissor. Uma política que faça o álcool custar metade da gasolina teria adesão maciça da frota flex, reduzindo imediatamente mais de 50% das emissões desses veículos, considerando que a cana captura CO2 da atmosfera ao ser plantada.

A própria gasolina pode ter seus impostos em vasos comunicantes com o álcool, transferindo recursos entre si para garantir que isso ocorra. Além de ótimo ambientalmente, ainda fortalece a balança de petróleo do Brasil, nossas exportações e autossuficiência energética.

Engana-se quem pensa que os veículos elétricos ajudam a nos livrar do cartel mundial da OPEP. Seja para produção de eletricidade, simples aquecimento ou para mover o transporte, a cadeia de energia é toda formada por vasos comunicantes e consumidora do petróleo mundial. Novas opções de energia é o que pode realmente reduzir essa dependência.

O atraso de medidas ineficazes é grave, até fatal. Que o diga quem já sofreu consequências severas das mudanças climáticas. Há muito que podemos realmente fazer em vez de perder tempo e dinheiro com sonhos distantes.

Para mim, “descarbonização de frota” é um neologismo falacioso. Veículo ZERO emissão viável ainda não existe. Focar na melhoria da produção de energia realmente funciona, diferente da ilusão de trocar o posto de combustível pela tomada.

Precisamos abandonar mitos convenientes e abraçar abordagens pragmáticas que considerem todo o ciclo de produção e consumo de energia. Somente assim enfrentaremos os desafios climáticos com responsabilidade e eficiência, garantindo um futuro sustentável para as próximas gerações.

Dimas Barreira é administrador de empresas e presidente do Sindiônibus

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