O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), voltou ao tema “Bíblia nas escolas” nesta semana, em entrevista a um grupo de comunicação do Ceará. Depois da alardeada, lacrimejante (para o deputado-pastor) e discutível proposta anunciada em agosto passado – tida por alguns como “eleitoreira” -, o petista reforçou seu empenho pessoal em tentar, no que lhe é possível, diminuir a resistência de religiosos cristãos à esquerda, em geral, e ao PT, em particular.
Segundo Elmano, “é razoável que a biblioteca da escola tenha a Bíblia, como pode ter o Alcorão ou livros de outra religião”. O petista poderia lembrar, nesse sentido e exatamente neste ponto, que esse foi o argumento de sua então chefe, Luizianne Lins, quando vetou, em 2008, a aquisição de Bíblias para as escolas municipais, o que lhe custa, ainda hoje, a pecha de “senhora Jezabel” entre os “irmãos”. Ali, a ex-prefeita dizia que, para comprar livros religiosos, ou se comprava de todos os credos ou não se comprava de nenhum, posto se configurar o fato como proselitismo.
Ainda segundo o governador, “para os jovens que estão na escola de ensino médio, é razoável que ele queira ler José de Alencar e tenha na biblioteca, assim como é razoável que o jovem possa abrir a Bíblia”. Será mesmo? Estarão as bibliotecas das escolas equipadas com literatura diversa para a leitura dos jovens? E que intervalos de tempo têm eles para a leitura? E mais: como bem lembrou, em agosto, um deputado estadual crítico do projeto de Elmano, que religioso tem dificuldades de encontrar uma Bíblia ou mesmo que não a tenha?
É que Elmano “não consegue compreender”, segundo ele mesmo disse na referida entrevista, como alguém se oporia à presença do livro sagrado nas escolas, ao lado de livros “do José de Alencar, de Machado de Assis, do Aluízio de Azevedo, da Rachel de Queiroz”. Elmano sabe o que está dizendo. Acena, “sem as malícias que a eleição provoca” (palavras suas), para uma possibilidade de diálogo com evangélicos e católicos carismáticos que mostraram sua força de mobilização na quase-eleição de André Fernandes (PL), e que se intensificará muito em breve no pleito de 2026.
Ele precisa de ações que mostrem materialização, em seu governo, de interesses “cristãos” bastante objetivos.
Impressiona como parlamentares da base aliada, mesmo os do PT (que, fosse a “promessa” feita por outro governador, estariam a bradar em defesa da laicidade do Estado), permanecem em silêncio acerca dos problemas (muitos) do projeto. Impressiona mais ainda a quem acompanha a política estadual e lembra dos vários embates que o então líder do governo Camilo Santana na ALECE, hoje governador, teve com deputados da “bancada evangélica”, inclusive o autor do projeto que hoje faz a cabeça de Elmano.
Dai a Deus o que é do interesse dos homens de deus.