Aos 13; Por Angela Barros Leal

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Eu já fiz 13 anos, você já fez, ele fez, ela fez. Nós fizemos 13 anos, vós fizestes, eles, elas, também fizeram. Todos nós um dia comemoramos essa idade, por mais incrível que agora nos pareça.

Por qual motivo não lembro nada referente à comemoração dos meus 13 anos, e dos 365 dias deles decorrentes, é uma questão à parte. Nada me vem à lembrança de tal fato. Nada, sequer um rastro, um fragmento de memória, me traz de volta o que vivenciei naquela idade. O que me parece um bom sinal, e explico a razão.

Minha neta completou agora 13 anos, vindo daí a busca que resolvi fazer nos escaninhos da memória. Fosse ela nascida nos Estados Unidos, estaria sendo integrada aos teenagers, ao grupo etário que vai dos 13 aos 19 anos. Sendo brasileira nada muda. Não é autorizada a dirigir. Não pode votar. Não consegue viajar sem a autorização expressa dos pais. Nenhum marco existe que permita a ela gravar a data de hoje, para ser lembrada daqui a – digamos, meio século. O que é outro bom sinal.

Tivesse ela nascido no Brasil do século XIX, corria o risco de ter marcado na memória os preparativos para seu casamento, como aconteceu com uma de suas trisavós, que aos 13 tornou-se mãe, e que envelheceu junto com as filhas, como se irmãs fossem.

Tivesse nascido em um dos países distribuídos entre o Oceano Atlântico e o mar Arábico, entre o Mediterrâneo e o chamado chifre da África, indo até o Oceano Índico – e executo contorcionismos geográficos para não citar o nome da região –, muito possivelmente estaria ela prometida em matrimônio, ou poderia estar casada, quem sabe desde os 6 anos, com o líder de uma poderosa crença – cujo nome igualmente me abstenho de mencionar.

(Sosseguemos nossos corações: o referido casamento só teria sido consumado quando a noiva alcançasse a provecta idade de 9 anos).

Aos 13, ela está mais velha do que a órfã Poliana, personagem do livro de Eleanor Porter, cuja história inicia aos 11. Tem mais tempo de vida do que Lolita, de 12, foco da obsessão de um execrável Hubert Hubert, homem de meia idade, um dos personagens mais repulsivos de toda a literatura, produzido pela mente de Vladimir Nabokov.

Tem ainda a mesma idade de Joana d´Arc em suas primeiras visões, e os mesmos 13 anos de uma certa Julieta Montecchio, cuja paixão desmedida pelo belo Romeu Capuleto desencadeou uma das mais dramáticas tragédias familiares do teatro mundial.

Nada se deu com minha querida neta capaz de assinalar a passagem da data, ou que tenha impedido a ela construir a pessoa que algum dia será. Talvez venha a lembrar de ter sido esse o ano em que cresceu subitamente, quase a olhos vistos, desdobrando-se de cadeiras e de sofás alguns centímetros mais alta do que quando neles se sentara. Talvez recorde os 13 como o ano em que passou com louvor para o oitavo ano do Ensino Fundamental II, e em que começou a apreciar a leitura daquilo que chama “livros de gente grande”.

Está livre para vivenciar pequenas ações de independência, possibilitadas pela nova idade: festas do pijama com as amigas, noites de cinema, passeios de curta duração com a turma da escola.

Sei muito bem ser ela duplamente privilegiada. Primeiro, pela sorte de contar com a proteção, o afeto, a orientação da família. Segundo, pelo volume avassalador de fatos acontecidos de uns tempos para cá, no mundo Ocidental, a favor das meninas, antes que ela própria chegasse aos 13.

Uma bênção não ter precisado ouvir o bordão – por muito tempo aceito com naturalidade – do “entrefechado botão, entreaberta rosa”; um alívio ignorar o significado da palavra “ninfeta”; um bálsamo nunca ter ouvido canções suspeitamente elogiosas, louvando a “menina moça,/ mais menina que mulher;/ joia preciosa,/ cada um deseja e quer”.

Penso que quanto menos ela lembrar dessa data, melhor para ela. Lá por volta do ano 2075, o que desejo a ela é que se pergunte, como me pergunto hoje, como todos nós podemos nos perguntar, o que marcou seus 13 anos. Que nada exista de lembranças será um excelente sinal positivo.

Angela Barros Leal é jornalista, escritora e colaboradora do Focus Poder desde 2021. Sócia efetiva do Instituto do Ceará.

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