
Convivi com Mário Pontes pelos últimos anos da sua vida. Encontrávamos-nos com frequência na rua da Assembleia, no centro do Rio de Janeiro, em almoços intermináveis, e por serem assim, em constantes reincidências, tornaram-se pretextos para novos encontros.
O “Jornal do Brasil”, por esse tempo, quando já era “JB” no tratamento afetivo dos seus leitores, encerrara as suas portas, abertas pelo conde Pereira Carneiro. Mário Pontes encerrara o Suplemento Literário que dirigiu por tantos anos. O silêncio do “suplemento” deixara os leitores desamparados. A literatura foi sendo banida das folhas, os espaços que lhe eram antes reservados, foram preenchidos, pouco a pouco, por trivialidades, Mário, jornalista de profissão, secretário e editor de O Estado, sob a batuta de um escritor, Fran Martins, diretor de um jornal criado por um advogado de notória expressão jurídica — Martins Rodrigues. Por esse tempo, as redações eram apinhadas de intelectuais. Mário Pontes lutava por aceitar, relutante, a própria aposentadoria.
Nessas conversas, das quais brotavam reminiscências perdidas, memória das ideias mal-tratadas entre tipos móveis de caixa, dissimuladas, desaparecidas entre linotipos escondidas, Mário era um “dicionarista” a seu modo, sem exibições, um colecionador de palavras, apascentador prudente de advérbios e adjetivos. Dispunha com discrição os dicionários, amarelados pelo uso, em estado de alerta para as suas incursões habituais. Lia-os por hábito e gosto; consultava-os por impulsos que mal continha nos seus exercícios perdulários de leitura.
Ganhei a amizade de Mário em Fortaleza, na rua senador Pompeu, espécie de “Times Square”, na qual se haviam instalado seis jornais diários: a Gazeta de Notícias, O Democrata, O Estado, o Unitário e o Correio do Ceará, e O Povo… Perdi a simpatia, o valor da sua presença e a postura branda e cordial —- no Rio de Janeiro.
De repente, faltou-me a presença constante do amigo. Vim saber por alguns poucos registros de amigos que Mário partira, assim me garantiu Goeble Weyne, outro cearense homiziado à sombra da diáspora cearense em terras cariocas, como eu próprio fui, por muitos anos.
