
O fracasso de adesão ao ato pela anistia dos celerados de 8/1 não deveria causar nenhuma surpresa em quem tem os dois pés sobre o chão. Basta observar que a depredação na praça dos 3 Poderes não gerou, naquele e nos dias subsequentes, nenhum efeito de ampliação, mesmo não tendo durante o incidente havido reações imediatas de repressão violenta contra a pequena multidão enfurecida.
A mobilização não se propagou dado somente o despropósito soberbo das ações, de agressão violenta aos símbolos patrimoniais da República. O fato é que a grande massa de cidadãos comuns conservadores, que havia votado no candidato derrotado, já havia acatado como legítimo o resultado das urnas eletrônicas, e tampouco se viu representada por aqueles métodos, de resto inéditos na história do país.
O desespero, este mau conselheiro, além, claro, da arrogância de caráter, típica do espírito autoritário, convenceu a Bolsonaro, e o oportunismo àqueles que flertam com seu eleitorado cativo, de que o domingo seria bem mais animado na calçada do que na areia da praia de Copacabana. Só que não. O sentimento do país se encontra mais pacificado do que estão os ânimos dos denunciados por crimes graves contra o Estado de Direito.
Não precisaria ter havido a constatação, amarga para uns, imposta pelo esvaziado ato de Copacabana e o erro poderia ter sido evitado com uma consulta atenta às pesquisas de opinião. Já teria sido o bastante para recomendar recuo diante da intenção de reunir o gado.
E o que dizem as pesquisas? Revelam que a maior parte dos brasileiros que votaram em Bolsonaro acredita no envolvimento dele com tentativas de subverter a ordem constituída para se manter no poder por efeito de um ato de força . Em latim vulgar, eles próprios o têm como “golpista”, incriminado por grande parte de seus eleitores.
Em resumo, faltava ao ex-presidente a autoridade moral necessária para vocalizar o sentimento de indignação com o que denunciou na manifestação como um intuito persecutório, com motivação indevidamente política, por parte do Supremo Tribunal. Ali, o enforcado é que maldizia a forca.
A percepção de que Bolsonaro agiu em causa própria ao convocar aquele ato, pretensamente dissimulado com a motivação fake de defender seus seguidores presos, fez com que toda aquela encenação representasse, de fato, uma ofensa à inteligência das pessoas, mesmo entre as parcelas já mais refratárias de seu aturdido rebanho.
Isto é, ainda que possa restar entre muitos – e não somente bolsonaristas – a sensação de que Alexandre de Moraes pesou a mão na dosimetria de muitas sentenças proferidas, o fato é que os criminosos foram identificados e julgados nos parâmetros que a lei autoriza. E tudo isso não apenas é muito recente, como compõe um contexto geral de atos ainda sob regime de apuração e julgamento. Anistia para quem mesmo, senhor Jair?
