A janela do ônibus e a compreensão humana; Por Gera Teixeira

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Na adolescência, fiz uso frequente de ônibus. Não era o meu transporte diário, mas esteve presente em muitos percursos importantes da juventude. Era nesses trajetos que a cidade se revelava de forma diferente, como um livro aberto diante dos olhos. A cada viagem, as ruas, praças e rostos anônimos se tornavam lições silenciosas sobre a vida e suas muitas formas de existir.

Viajar de ônibus nunca foi apenas chegar a um destino. Era uma oportunidade de contemplar pela janela uma realidade em movimento, cheia de contrastes e de histórias que se entrelaçavam. O ônibus, com suas paradas, entradas e saídas, simbolizava a própria vida, feita de chegadas, despedidas e trajetórias imprevistas.

Hoje, cercados por recursos digitais que nos inundam com imagens prontas e mensagens instantâneas, corremos o risco de perder a capacidade de observar. As telas oferecem atalhos, mas a janela do ônibus ensina o valor da contemplação, da pausa, do olhar atento. Enquanto o mundo digital multiplica estímulos, a janela devolve ao passageiro o que a pressa não permite: a percepção do simples.

Pelos vidros, desfilam cenas que carregam sentido. A criança que improvisa um jogo na rua, o trabalhador que guarda sua marmita com cuidado, a senhora que enfrenta o peso das sacolas, o jovem que sonha ao mirar o horizonte. Também aparecem os contrastes: mansões e casebres, jardins e terrenos baldios, sinais de abundância e marcas de escassez. Cada detalhe ensina que a cidade é feita de desigualdades e esperanças, e que compreender o ser humano exige enxergar essa pluralidade.

Não é apenas a paisagem externa que oferece lições. Dentro do veículo, o silêncio, o riso, a pressa e o cansaço revelam fragmentos de humanidade. O ônibus é uma convivência em movimento, um espaço de encontros fugazes que, ainda assim, deixam marcas.

A janela do ônibus é mais do que um limite de vidro. É espaço de formação do olhar e escola de compreensão. Quem aprende a contemplar através dela descobre que a vida não cabe em algoritmos nem em telas apressadas. A vida é feita de encontros, de pausas, de presenças. O ônibus chega ao ponto final, mas a viagem interior continua.

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