A construção da opinião pública; Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

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Como “construir” a “opinião pública” em um país no qual mais da metade da população não leu um livro sequer em toda a sua vida? No qual as taxas de analfabetismo funcional alcançam números abismais ?

Neste mesmo país, mais de dez por cento da população é analfabeta. Nele o entretenimento, a informação e a catequese política são operados pela voz ou por imagens: tv, pelas redes sociais, pela voz dos pastores e pelos aliciadores de votos, encaixados na estrutura partidária.

A recepção da imagem, a “leitura” figurada do fato ou da ideia, por quem não contraiu o hábito da leitura, equivale a uma explosão de efeito retardado. A mídia bem poderia servir como instrumento de “aculturação” para os “sem-leitura”, abrindo a sua percepção para a compreensão das circunstâncias. Por irrisão ou capricho acontece justamente o contrário, ela consolida e amplia a ignorância com informações duvidosas e notícias mal-construídas ou intencionalmente condicionadas por injunções ou interesses de circunstância.

Como formar “opinião” entre pessoas que mal conseguem processar a realidade que lhes chega ao entendimento, de forma tão desestruturada? Como fazer do voto o instrumento efetivo da formação de uma consciência política, e levar os cidadãos-eleitores às escolhas necessárias para a valorização da “Representação” e do “Mandato”?

Como construir uma democracia sólida com a privação da voz dos que contam de fato na construção do Estado-Nação — o povo ?

A dificuldade para fazer da democracia um fato real e não uma discussão de constitucionalistas e da burocracia eleitoral não se encontra na forma de apuração, da contagem e sistematização do que está na urna. Mas como essas intenções se materializaram em uma manifestação contabilizável da vontade expressa na contagem “do que está na urna”,
— o voto.

Não é a burocracia tentacular, construída para a regulação e operacionalização do processo eleitoral que conta, de fato, como fator democrático decisivo. Tampouco o aparato legal não é a lei que faz o direito, mas o contrário.

Não ajuda pedagogicamente, entretanto, querer dar lições de democracia ao povão que ouve e vê autoridades prolatarem gracejos, do tipo “faz-se o diabo para ganhar uma eleição” ou uma máxima ponderável em uma nação de tão diminuta fé democrática, “eleição não se ganha, toma-se”…

Que se entenda que não é a democracia que faz o direito. O direito faz a democracia. E o povo e a decisão do voto fecham o rito essencial da democracia. Não são as leis que enquadram a ordem social e política, porém a legitimidade das decisões que elas consagram.

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

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