Vivemos tempos apressados. A angústia por soluções rápidas se espalha como uma epidemia política e social. Por ansiedade, muitos querem acreditar que basta eleger alguém com “coragem” para que tudo se resolva por decreto — na base da força bruta ou do carisma. Mas os atalhos, quase sempre, levam a becos sem saída.
Na política, a tentação dos extremos — à esquerda ou à direita — engana ao parecer oferecer clareza e velocidade. Na prática, porém, entregam paralisação. Quanto mais se tenta impor um caminho unilateral, mais se mobiliza a reação contrária. E, quando o debate vira confronto, as forças se anulam em ciclos de avanços e retrocessos, reescrevendo tudo a cada quatro anos e tornando o país uma eterna promessa.
Essa polarização nos distrai do essencial: o Brasil precisa de um ciclo consistente e duradouro de desenvolvimento, que comece pelo compromisso com eficiência, responsabilidade fiscal e produtividade. Só então será possível sustentar uma nova etapa de distribuição mais ampla, justa e permanente. A ordem importa. Ignorar essa lógica pode até render aplausos momentâneos, mas inevitavelmente levará ao fracasso.
Há quem ainda acredite que tudo depende apenas da “vontade política” do próximo mandatário. Mas um país não se governa à força, tampouco com slogans. É preciso autenticidade e legitimidade, sim, mas também preparo, humildade, paciência e habilidade para construir consensos. Governar é, acima de tudo, somar.
O extremismo inverte valores. Quem está à esquerda é acusado de ignorar a importância de produzir antes de distribuir. Quem está à direita é tachado de insensível, como se fosse contra a solidariedade. Nenhum desses retratos me parece justo. A maioria dos brasileiros — e dos políticos — não é inimiga do país, muito menos do seu povo. Mas o debate polarizado os força a tomar lados que não os representam. E aí tudo emperra.
Uma solução consistente exige lideranças que valorizem o contraditório, respeitem a democracia e saibam ouvir. É preciso aceitar que nenhum lado tem todas as respostas — e que só avançaremos se estivermos dispostos a somar. Isso não significa ceder, mas reconhecer a legitimidade do pensamento alheio e, quando algo for positivo, acolher a ideia de forma que ninguém se sinta deixado para trás. Precisamos de um novo pacto: um compromisso pelo Brasil, acima das disputas.
Os desafios são grandes. Temos um Estado lento e pesado, uma população acostumada a benefícios que não cabem no orçamento e, especialmente, uma curva demográfica que pressiona cada vez mais o sistema previdenciário. Por outro lado, também temos uma janela de oportunidade inédita.
O mundo está sedento por energia limpa, alimentos, estabilidade institucional e segurança ambiental. E o Brasil — com sua matriz energética privilegiada, sua abundância de recursos naturais e sua posição geopolítica respeitada — pode ser esse oásis de prosperidade e equilíbrio. Mas o primeiro passo é político: precisamos criar um ambiente de previsibilidade e convergência.
Se soubermos eleger, em 2026, nomes propositivos e respeitosos, comprometidos com o país — e não apenas com a vitória partidária — poderemos transformar o cenário. Com estabilidade e visão, podemos saltar décadas em poucos anos. O futuro não é uma linha reta: ele se acelera e favorece os que se preparam e se adaptam com competência.
O diálogo transformador nunca foi tão importante. Ele não cairá do céu — mas pode, sim, ser construído. A oportunidade que temos agora é rara. E, se desperdiçada, pode se tornar irrecuperável.
