A Importância da Otimização do Planejamento de Redes de Gás e Eletricidade para a Descarbonização no Nordeste do Brasil. Por Adão Linhares

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No contexto brasileiro, especialmente no Nordeste, que se destaca pelo seu vasto potencial de energias renováveis (solar, eólica onshore e offshore) e por condições estratégicas logísticas e geopolíticas, a otimização do planejamento das redes de gás e eletricidade torna-se um elemento-chave para uma transição energética bem-sucedida e acelerada.

Diante da pressão para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, concessionárias e planejadores precisam adotar estratégias que integrem de forma coordenada o planejamento e a infraestrutura de gás natural e eletricidade, garantindo previsibilidade para consumidores e atraindo investimentos.

Os seguintes componentes devem guiar essa abordagem no Nordeste:

Quadros Regulatórios Eficazes e Integração de Mercado

Para garantir um ambiente atrativo a investimentos no setor energético, é fundamental desenvolver políticas regulatórias transparentes que favoreçam:
​•​A integração de fontes renováveis, como a energia solar e a eólica (onshore e offshore), amplamente disponíveis na região.
​•​A expansão e modernização das redes de transmissão e distribuição, com tarifas que assegurem acessibilidade aos consumidores e incentivem investimentos em tecnologias limpas, como a geração distribuída, o uso de biometano e em breve, a distribuição do hidrogênio verde como “blending” na rede de gás natural.

No caso do Ceará, a experiência com a distribuição de biometano pela concessionária local de gás natural pode ser ampliada, servindo de modelo para o uso de gases renováveis em outros estados.

Papéis Alinhados dos Operadores de Redes de Gás e Eletricidade

A sinergia entre operadores de redes de transporte e distribuição de gás e eletricidade é indispensável para:
​•​Viabilizar a integração de fontes renováveis flutuantes, como a eólica offshore, cujo potencial no litoral do Nordeste supera 140 GW, segundo estudos do Ministério de Minas e Energia.
​•​Garantir a estabilidade do sistema mesmo com variações de geração e consumo, otimizando a capacidade de despacho.

Essa cooperação permitirá, por exemplo, que o excesso de eletricidade gerada em horários de pico seja armazenado ou convertido em hidrogênio verde, integrando os sistemas de gás e eletricidade.

Modelagem Estratégica para Gestão de Picos

O aumento da capacidade de geração renovável exige um planejamento robusto para lidar com variações de demanda e oferta, sem comprometer a confiabilidade dos sistemas. No Nordeste, isso significa:
​•​Expansão da transmissão para transportar energia de áreas com alta geração renovável (como o interior do Piauí, do Ceará e do Rio Grande do Norte) para grandes centros consumidores.
​•​Desenvolvimento de infraestruturas de armazenamento energético (baterias, hidrogênio verde e tecnologias Power-to-X), que estabilizem a rede em momentos de maior demanda ou baixa geração.

Estruturas Tarifárias Inclusivas

No Brasil, a evolução das estruturas tarifárias deve:
​•​Incentivar o uso de gases renováveis, como o biometano, que já representa 13% da distribuição de gás natural no Ceará, com potencial de crescimento a partir de resíduos sólidos urbanos, que pode ser replicado em vários centros urbanos.
​•​Promover o consumo de energia renovável, assegurando que políticas como o mercado livre de energia e a compensação de créditos sejam acessíveis aos pequenos e médios consumidores.

Planejamento de Investimentos em Infraestrutura

O planejamento coordenado entre os setores de gás e eletricidade no Nordeste deve priorizar:
​•​Projetos de interconexão regional para assegurar o fluxo eficiente de energia gerada em diferentes estados e subsistemas regionais.
​•​Expansão da infraestrutura de produção, transporte e uso de hidrogênio verde, especialmente nas infraestruturas portuárias e zonas de processamento de exportações (ZPE’s), como no Ceará, que já abriga iniciativas para exportação dessa “commodity” energética.
​•​Modernização das redes de gás para suportar a crescente integração de biometano e a introdução do hidrogênio verde.

Hidrogênio Verde e Power-to-X: Motores da Transição Energética

O Nordeste brasileiro está bem-posicionado para liderar globalmente a produção de hidrogênio verde, devido a:
​•​Sua capacidade de gerar energia renovável a baixo custo.
​•​A proximidade geográfica com mercados internacionais, especialmente a Europa, que demandam soluções de energia limpa.
​•​Experiências pioneiras no Ceará, como o Hub de Hidrogênio Verde, que já atrai grandes investidores e busca integrar a produção de energia renovável e soluções Power-to-X para armazenar excedentes de geração.

Conclusão

A otimização do planejamento das redes de gás e eletricidade no Nordeste brasileiro é uma oportunidade única para transformar a região em um polo estratégico de energia limpa e descarbonização. Combinando políticas regulatórias transparentes, investimentos em infraestrutura, expansão da produção renovável e tecnologias como o hidrogênio verde, é possível não apenas atender às demandas locais, mas também posicionar o Brasil como líder global na transição energética sustentável.

Adão Linhares Muniz, fundador e primeiro presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEOLICA. Sócio da empresa Energo Soluções em Energias e do Instituto Energo de Inovações.

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