No contexto brasileiro, especialmente no Nordeste, que se destaca pelo seu vasto potencial de energias renováveis (solar, eólica onshore e offshore) e por condições estratégicas logísticas e geopolíticas, a otimização do planejamento das redes de gás e eletricidade torna-se um elemento-chave para uma transição energética bem-sucedida e acelerada.
Diante da pressão para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, concessionárias e planejadores precisam adotar estratégias que integrem de forma coordenada o planejamento e a infraestrutura de gás natural e eletricidade, garantindo previsibilidade para consumidores e atraindo investimentos.
Os seguintes componentes devem guiar essa abordagem no Nordeste:
Quadros Regulatórios Eficazes e Integração de Mercado
Para garantir um ambiente atrativo a investimentos no setor energético, é fundamental desenvolver políticas regulatórias transparentes que favoreçam:
•A integração de fontes renováveis, como a energia solar e a eólica (onshore e offshore), amplamente disponíveis na região.
•A expansão e modernização das redes de transmissão e distribuição, com tarifas que assegurem acessibilidade aos consumidores e incentivem investimentos em tecnologias limpas, como a geração distribuída, o uso de biometano e em breve, a distribuição do hidrogênio verde como “blending” na rede de gás natural.
No caso do Ceará, a experiência com a distribuição de biometano pela concessionária local de gás natural pode ser ampliada, servindo de modelo para o uso de gases renováveis em outros estados.
Papéis Alinhados dos Operadores de Redes de Gás e Eletricidade
A sinergia entre operadores de redes de transporte e distribuição de gás e eletricidade é indispensável para:
•Viabilizar a integração de fontes renováveis flutuantes, como a eólica offshore, cujo potencial no litoral do Nordeste supera 140 GW, segundo estudos do Ministério de Minas e Energia.
•Garantir a estabilidade do sistema mesmo com variações de geração e consumo, otimizando a capacidade de despacho.
Essa cooperação permitirá, por exemplo, que o excesso de eletricidade gerada em horários de pico seja armazenado ou convertido em hidrogênio verde, integrando os sistemas de gás e eletricidade.
Modelagem Estratégica para Gestão de Picos
O aumento da capacidade de geração renovável exige um planejamento robusto para lidar com variações de demanda e oferta, sem comprometer a confiabilidade dos sistemas. No Nordeste, isso significa:
•Expansão da transmissão para transportar energia de áreas com alta geração renovável (como o interior do Piauí, do Ceará e do Rio Grande do Norte) para grandes centros consumidores.
•Desenvolvimento de infraestruturas de armazenamento energético (baterias, hidrogênio verde e tecnologias Power-to-X), que estabilizem a rede em momentos de maior demanda ou baixa geração.
Estruturas Tarifárias Inclusivas
No Brasil, a evolução das estruturas tarifárias deve:
•Incentivar o uso de gases renováveis, como o biometano, que já representa 13% da distribuição de gás natural no Ceará, com potencial de crescimento a partir de resíduos sólidos urbanos, que pode ser replicado em vários centros urbanos.
•Promover o consumo de energia renovável, assegurando que políticas como o mercado livre de energia e a compensação de créditos sejam acessíveis aos pequenos e médios consumidores.
Planejamento de Investimentos em Infraestrutura
O planejamento coordenado entre os setores de gás e eletricidade no Nordeste deve priorizar:
•Projetos de interconexão regional para assegurar o fluxo eficiente de energia gerada em diferentes estados e subsistemas regionais.
•Expansão da infraestrutura de produção, transporte e uso de hidrogênio verde, especialmente nas infraestruturas portuárias e zonas de processamento de exportações (ZPE’s), como no Ceará, que já abriga iniciativas para exportação dessa “commodity” energética.
•Modernização das redes de gás para suportar a crescente integração de biometano e a introdução do hidrogênio verde.
Hidrogênio Verde e Power-to-X: Motores da Transição Energética
O Nordeste brasileiro está bem-posicionado para liderar globalmente a produção de hidrogênio verde, devido a:
•Sua capacidade de gerar energia renovável a baixo custo.
•A proximidade geográfica com mercados internacionais, especialmente a Europa, que demandam soluções de energia limpa.
•Experiências pioneiras no Ceará, como o Hub de Hidrogênio Verde, que já atrai grandes investidores e busca integrar a produção de energia renovável e soluções Power-to-X para armazenar excedentes de geração.
Conclusão
A otimização do planejamento das redes de gás e eletricidade no Nordeste brasileiro é uma oportunidade única para transformar a região em um polo estratégico de energia limpa e descarbonização. Combinando políticas regulatórias transparentes, investimentos em infraestrutura, expansão da produção renovável e tecnologias como o hidrogênio verde, é possível não apenas atender às demandas locais, mas também posicionar o Brasil como líder global na transição energética sustentável.