“Dois passageiros abriram os seus guarda-chuvas, para serem repreendidos pela guia: ‘É apenas água!’, protestou ela em várias línguas”. Angela Barros Leal – “A Gota D’água”, FOCUS, 23/05/2025
De água fez-se o mar e o Tejo e a enorme catarata do finisterio. Dos empuxões das colunas d’água lançadas sobre o vazio dos domínios de Netuno, fugiram as gotas de Pontillac e Seurat para aquela janela mínima da plástico e para o rosto da senhora.
“Não é nada, é apenas água”.
Nenhuma novidade, só lembranças perdidas, cores pontilhadas deitadas nos vãos molhados de uma rua em Alcochete ou em Sacavem.
No horizonte, quando o Tejo derrama as suas angústias sobre o Atlântico, surge no velame das caravelas de conquista e exploração, a Cruz de Malta, com as suas 8 pontas voltadas para o “centro do espírito e a regeneração”, como lembravam os feitos da primeira Cruzada.
Em Sagres, de onde partiram as caravelas do Infante Dom Henrique, para o “mare nostrum” desconhecido, naquele rochedo flutuante de sábios navegadores, bordaram-se as cartas de navegação das Tordesilhas e foram traçadas as rotas de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
A ínfima janela aberta pela jovem senhora, por curiosidade consentida, sobre a chuva refletida no macadame da rua, colheu e guardou, naquele dia, o frescor de incontroláveis visões de viajante.
