“Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex…”
[De uma antiga propaganda de fixador de cabelos]
A serem verdadeiras as estatísticas que exibem números pelos quais o Brasil surge com a maior concentração de cursos faculdades de graduação em direito em todo o “resto” do mundo, poderíamos nos orgulhar de possuirmos o mais eficiente e sólido sistema judicial do planeta. Entre bacharéis, advogados, rabulas e faculdades de direito somos uma potência mundial de primeira grandeza.
Na medicina, nossos contingentes não apresentam a mesma expansão gigante, porém estamos entre os países do mundo com o maior contingente de faculdades de medicina, a maior parte delas, como em direito — mantida por entidades mantenedoras privadas. Neste ano, de uma só canetada pedagógica foram criados para mais de 90 cursos privados de medicina. Não há de indagar-se por onde se instalaram esses redutos matriciais de formação médica…
Em um país governado por socialistas confessos, gente do mais fino trato “progressista”, pós-moderno, surpreende que a iniciativa privada supere a rede pública de ensino superior — e continui a crescer em expansão geométrica pelas ribeiras e à margem de estradas vicinais…
O paradoxo sobressai da adoção de programas de financiamento que operaram a transferência de recursos públicos para a iniciativa privada [PROUNI, Programa Universidade para todos é um deles], quando a expansão de vagas poderia ter ocorrido nas instituições públicas. A privatização do ensino público avançou a passos largos precisamente sob as rédeas de um governo “progressista”.
A “interiorização” das universidades e de cursos de graduação não poderia seguir referências político-eleitorais ou atender a influências de lideranças prestigiadas. A expansão fora da sede ou a criação de cursos e faculdades haveriam de atender a um processo de expansão planejado, segundo critérios sociais e econômicos relevantes.
Acresce a circunstância de os controles de avaliação e de credenciamento de cursos e faculdades, no âmbito das instituições isoladas, privadas, e até mesmo no caso de centros universitários e de muitas universidades, mostrarem-se indulgentes e sujeitos a influências políticas de prestígio.
São tantos os bacharéis saídos da fôrma, a cada semestre e a cada ano, canudos à mão e um recitatório latino na ponta da lingua, que surpreende e preocupa a parcimoniosa produção de pareceres e embargos recalcitrantes produzidos entre dois recessos em todos os quadrantes jurisdicionais.
Por outro lado, frágil mostra-se a contabilidade de ganhos, segundo avaliações do rendimento e desempenho escolar, nas áreas das ciências exatas, em todos os graus, no estudo e na aprendizagem dos códigos e da linguagem.
Nessa expansão, boa parte do ensino universitário poderia ser substituída, com vantagem, pelos cursos técnicos, mais conformes às necessidades locais dessa expansão desordenada, à empregabilidade e às demandas de prestação de serviços.
Em muitos países, o contingente de escolas e institutos técnicos excede à população universitária, com elevado nível de absorção pelo mercado de trabalho e pela economia. Traços persistentes de uma cultura ancestral empurram, hoje como no passado, os concludentes do ensino técnico de segundo grau para as universidades. Todos querem ser “doutores”, ao preço de uma baixa qualificação para um mercado de trabalho de poucas oportunidades. Uma forma indigente de formação inepta para o desemprego.
À sedução da bacharelice, a pós-graduação de uma duvidosa “pós- pós-graduação”, na qual são ungidos os “super-doutores”, tornaram-se, via de regra, salvo as exceções notórias, um prolongamento da escolaridade, cuja importância não foi devidamente avaliada.
PS: Nada contra os bacharéis. Sou um deles, como quase todos os da minha geração.
