Bate coração. Por Angela Barros Leal

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O coração de uma girafa pesa cerca de 11 quilos, e mede mais ou menos  60 centímetros. Assemelha-se ao nosso próprio coração, nos volteios manuelinos da sua estrutura,e quando arrancado do corpo morto de sua portadora,ainda mancha de vermelho as unhas vermelhas de quem o segura. Há um deles exposto na internet, para quem quiser ver, nas mãos da sul-africana Merelize van der Merwe, controversa caçadora.

O coração de uma baleia pesa 180 quilos e mede mais de 1,5 metro. Mais se assemelha a um equipamento mecânico, uma espécie de motor primal, dotado de uma dezena de encaixes e aberturas para o que poderiam ser tubos e conexões de grande porte, do que propriamente um órgão físico, algo que tenha dado vida a um animal.

Olhando bem, o coração gigantesco da baleia parece uma instalação artística, em especial depois de preservado em formol, como foi feito para exposição de um deles no Museu Real do Canadá. A dona original desse ditocoração foi encontrada morta, jazendo em uma praia doméstica, fatores que aliviam a culpa eventual dos expositores.

Nosso coração é um quase nada: chega a pesar um máximo de 340 gramas, e é do tamanho do punho fechado de um homem adulto, como repetem os informativos, representando talvez alguns poucos centímetros, em nada comparado aos anteriores. E no entanto…

E no entanto, como sofre esse pobre coração, que bate não apenas para dar às funções do corpo sua devida manutenção, mas também para incorporar o voejar da alma, responsável que o fizemos pela guarda das emoções, pelo arquivo dos sentimentos, pelo vasto acervo das sensações que nos fazem tão vulneravelmente humanos.

Objetivamente tratado, seu estudo físico não deve ser muito diverso da análise do coração de qualquer animalvertebrado.

Acredito que sigam todos eles os mesmos princípios, direcionados como são a bombear o sangue, a fazer funcionar os sistemas orgânicos, dividindo-se em camadas internas e externas, usando de maneira similar suas galerias de circulação, suas válvulas, seus átrios eventrículos (essa grandiosa terminologia que remete a templos e palácios), empregando os recursos de sua espantosa engenharia mecânica, seja ela fruto da evolução ou da divina criação.

A mesma facilidade não se tem no estudo íntimo do coração humano, e no que se faz necessário à cura do que nele pode causar dano.

Por exemplo: quem há de restaurar um coração ferido, deconsertar um coração partido, quem aplica curativos sobre um coração magoado, sentido, pisoteado.

Que remédios tranquilizarão um coração aflito, irãoremendar um coração doído, aliviar de sofrimento um coração apertado.

Nosso coração às vezes tão bobo, coração bom, coração puro, coração de criança, livre das manchas do pecado original, em que situações se apresenta, em que dias bate em nós no resplendor potencial de sua bondade.

Em outros dias, nem sabemos bem por quê, o bem se esvai do nosso mesmo coração, que bate pesado e vingativo, um coração que uiva e esbraveja feito cão sem dono, enfurecido e rancoroso, ofendido pelos sonhos destruídospor golpes, por abandono, tantas vezes se fazendo de pedra, cego e surdo às demandas da Humanidade.

Ao que se saiba, não usufruem os outros vertebrados das angústias que assolam nosso coração quando espezinhado, maltratado, um coração rasgado, pisoteado, jogado ao chão. Como também não gozam eles das benesses que extravasam de um coração jubiloso, repleto, realizado, pleno de satisfação.

Complexo deve ser o estudo das particularidades desse nosso tão pequeno e delicado coração, que se expande e se contrai em compasso tão diverso dos outros animais de semelhante extração. Se o deles (da girafa, da baleia…) se agiganta em dimensão, o nosso, cheio de alento, detém desmesurado valor. Preserva memórias de contentamento,guarda lembranças e histórias, conhece extremas humilhações e inesquecíveis vitórias, e até o derradeiro dia será nosso comandante e senhor: ponto central da nossa vida, repositório de todo o nosso sentimento.

 

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