
O fato: O Ministério das Relações Exteriores da China voltou a criticar o protecionismo dos Estados Unidos após o presidente Donald Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelo país, a partir de 1º de agosto. Nesta sexta-feira (11), a porta-voz do governo chinês, Mao Ning, classificou a medida como uma violação aos princípios da igualdade soberana e da não interferência entre países.
“As tarifas não devem ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência”, afirmou Mao Ning. “A igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta das Nações Unidas e normas básicas nas relações internacionais.”
A crítica pública foi feita durante coletiva em Pequim, quando uma repórter questionou a porta-voz sobre a decisão unilateral de Trump. A China e o Brasil mantêm uma parceria estratégica desde 1993 e ambos os países são membros dos BRICS.
A declaração reforça o posicionamento adotado por Pequim no início da semana, quando Trump iniciou o envio de cartas com ameaças tarifárias a parceiros comerciais. “Nossa posição sobre as tarifas é consistente e clara. Não há vencedores em uma guerra comercial ou tarifária. O protecionismo prejudica os interesses de todos”, disse Mao Ning na ocasião.
Entenda o caso: Na quarta-feira (9), Trump enviou uma carta oficial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciando a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras. No documento, o republicano justifica a decisão mencionando o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Segundo Trump, a atual política brasileira representa um “risco institucional aos interesses norte-americanos”.
Em resposta, Lula classificou a medida como uma afronta à soberania nacional. O presidente afirmou que o Brasil responderá com base na Lei de Reciprocidade Econômica e anunciou, na quinta-feira (10), que o país abrirá uma queixa formal na Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a legalidade das tarifas.
Impacto internacional: A reação da China amplia a pressão internacional sobre o governo norte-americano e fortalece o discurso do Brasil contra medidas protecionistas unilaterais. A ofensiva tarifária de Trump já provocou tensões com outras nações em momentos anteriores, mas o gesto contra o Brasil — aliado estratégico e grande exportador de commodities — amplia o alcance da disputa.
A posição da China também sinaliza um possível alinhamento político entre Pequim e Brasília em foros multilaterais, como a OMC e os BRICS, com potencial para isolar os Estados Unidos em eventuais votações.
Enquanto isso, empresários brasileiros temem os efeitos práticos da nova tarifa, especialmente nos setores de agronegócio, siderurgia e têxtil. O governo federal estuda medidas de mitigação e busca articulação com outros parceiros comerciais para reduzir dependência do mercado norte-americano.