Como se faz uma grande cidade? Por Jayme Leitão

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Mistura caótica típica de Fortaleza. Na imagem, exemplar da poluição visual que enfeia a cidade na movimentada esquina da Otávio Lobo com Padre Antônio Tomás. Um paredão de led, fiação amontoada, placas com ofertas de lanches, “pirulitos” com propaganda sob pretexto de indicar o nome das ruas. O horror urbano.

De tempos em tempos circula entre nós a ideia de que precisamos de grandes obras para assinalar o êxito de uma administração municipal, a marca de um prefeito. Será? Mas o que é mesmo uma grande cidade? Há muitos caminhos e várias respostas, mas a que mais se aproxima da essência do caso de Fortaleza é: aquela em que caminhar é um convite, uma experiência agradável. E estamos falando de pedestres, não de automóveis.

Assim, pode-se dizer que uma cidade é exemplar quando ela trata bem e acolhe quem anda por ela, quem a atravessa, quem por ela passeia. E é no cuidado e no respeito ao pedestre nos seus passeios que você sente que está num lugar civilizado.

Fortaleza não precisa de obras faraônicas nem de Aquários para ser uma grande cidade: precisamos de um prefeito que tire os carros de cima dos passeios e dos recuos, que enterre a fiação que está caindo na cabeça do cidadão (você sabia que 80% desses fios já não tem utilidade alguma?), que retire os outdoors e os absurdos painéis de LED do espaço público, que plante árvores já com algum porte e torne a
caminhada do pedestre um ato agradável e sombreado de forma contínua.

Não se trata de uma grande obra, mas de uma ação a ser espalhada por toda a cidade, e que revolucionaria a nossa relação com o espaço público, aumentado o número de pessoas nas ruas e, por consequência, a segurança. Sim, o comerciante vai bater o pé pra não perder as vagas de carro em frente à loja. Daí a importância de enterrar a fiação, demarcando que se trataria de uma completa requalificação do espaço público, e que mereceria até uma contribuição de melhoria junto ao IPTU.

Claro, as empresas que estão explorando os telões em LED vão reclamar – mas o que é que justifica que a Prefeitura multe o motorista que está vendo o seu celular quando ela autoriza uma empresa a implantar telas de TV do tamanho de um quarto nas avenidas, e que estão ali exatamente para atrair a atenção do condutor, de forma escancarada?

Em função de todos esses desgastes, nos parece que seria indicado escolher um quadrilátero para o início da implantação progressiva dessa requalificação: o resultado seria tão evidente, tão gritante, que o próprio reconhecimento público facilitaria a expansão da iniciativa para novos quadriláteros, numa ação que deveria atravessar administrações e se tornar um plano de implantação progressiva que revolucionaria a relação do fortalezense com o espaço público.

Assim, o prefeito que iniciasse esse processo terminaria reconhecido como o autor de uma transformação que, finalmente, colocaria Fortaleza no rumo de se tornar uma grande cidade.

Jayme Leitão é arquiteto e empresário.

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