Crise, mas quê crise? Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

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O Marquês de Pombal por Claude Joseph Vernet – Wikimedia Commons

Crise, mas quê crise?
[Por uma compassiva sociologia da crise]

“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro crítico”, Pierre Bourdieu

“A ignorância, a cobiça e a má fé também elegem seus representantes políticos”, Carlos Drummond de Andrade

De tantas e tamanhas crises enfrentadas no Brasil, já não temos pressa para que as crises recém-chegadas cheguem ao seu fim.

Em latim, a palavra “crisis” significava “momento de decisão, mudança súbita”.

Pela nossa semântica histórica, crise é uma situação criada pelo conflito de interesses, e solucionada por ajustes compensatórios. Assemelha-se a um “coitus interruptus interfemura”, prolongado, sem resultados apreciáveis…

Daí porque as nossas crises não chegam ao seu fim, tampouco valorizam o orgasmo e o intercurso das vãs expectativas.

Uma experiente política paulista, da melhor estirpe dos “quatrocentões”, percebera o mecanismo das crises brasileiras, e de quão efêmeras podem ser.

Surgiria aos brasileiros uma regra infalível em situações extremas: relaxa e goza”…

Das crises extraímos lições parcimoniosas, as consequências mais cômodas. O melhor das crises está justamente em não produzirem pressões permanentes.

No Brasil, as crises se reproduzem a partir das mesmas motivações, nascem no ventre das crises mal-resolvidas ou deixadas descuidadamente por resolver, originam-se, sempre, de outras crises acumuladas e interrompidas — nunca resolvidas.

Da sábia inspiração de dom João VI, o último usuário do Banco do Brasil, ao raspar as reservas dos haveres, no retorno à Corte, em Lisboa, aprendemos que os problemas e as crises resolvem-se por si mesmos, por resolução espontânea. A inclinação para a negociação e a harmonização de interesses é um traço ancestral dos vezos peninsulares herdados pelos brasileiros. Somos de boa índole, pacifistas e conciliadores pela própria natureza…

As preocupações que as crises possam inspirar não buscam o empenho para que encontremos uma solução final. Que se retirem decisão e mudança do espólio de qualquer crise parece improvável para o brasileiro animado de tanta esperança.

Qualquer propósito nesta direção é pura perda de tempo. A cada crise apresentada damos-nos conta de um novo e reiterado recomeçar. É da nossa índole.

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