Quando Evandro Leitão foi definido como candidato das forças progressistas em Fortaleza, levantei uma questão: com o time do Ceará em baixa, com dois anos seguidos fora da Série A do campeonato brasileiro, de que maneira o fato poderia se refletir na campanha dele, que foi presidente do clube?
A maioria das pessoas com quem conversava dava de ombros, como se diz, sob o argumento de que “futebol nunca decidiu eleição”. Fato. Por outro lado, argumentava: nunca um ex-presidente de clube de futebol fora antes candidato majoritário. Portanto, novas causas, novos efeitos.
Para mim, estava claro: como há somente dois clubes de massa no Ceará, em alguma medida a rivalidade se manifestaria, o que, na possibilidade de uma disputa muito acirrada, como de fato ocorre agora, poderia até fazer a diferença. Eleição disputada é como um clássico, dizem os boleiros: se decide nos detalhes.
Por fim, meus receios se confirmaram: o acirramento do segundo turno levou o candidato André, especialista em fakenews, a tentar esse gol de mão de incorporar aos temas da campanha a impropriedade das paixões clubísticas. Pesquisa recente publicada n’O Povo revela que o percentual de Evandro é menor entre tricolores do que entre alvinegros. Diferença pequena? Sim, mas suficiente para decidir tudo se a eleição fosse naquele mesmo dia.
No estilo sórdido que o define, o adversário de Evandro tem aplicado as técnicas de produção de fakenews na tentativa de desconstruir a imagem de Evandro no meio da galera alvinegra, ao confundir seu brilhante legado com o desempenho medíocre de quem o sucedeu com seu apoio e ao qual publicamente ele nunca criticou – isto é fato. Sobre aqueles, no rumor das arquibancadas circulam versões que evito mencionar em respeito à família brasileira.
Com isso, André cria também uma distração para lobotomizar seu rebanho incauto, ao tentar castrar o debate eleitoral levando-o para um tema fútil e impróprio, ao invés de discutir posições políticas e o preparo pessoal de cada um – o que realmente importa. De tudo, resta lamentar, pois disputas eleitorais acirradas nos fazem correr este risco: pequenos detalhes, e não necessariamente relevantes para o destino da cidade, contam na decisão final. Às vezes, contam muito e há exemplos de sobra. Desta feita, a frequência com que o assunto exótico é tratado na campanha traz a foco um dos efeitos colaterais mais tóxicos do processo democrático: o voto de um idiota vale tanto quanto o seu, caro leitor.
Mas, enfim, torço, com a fé das arquibancadas, para que o eleitor de Fortaleza coloque a bola ao chão e bata esse pênalti no canto certo: um voto pela democracia.
