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O Capitão ganhou uma batalha crucial, mas há muitas outras. Por Dimas Oliveira

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Dimas Oliveira é articulista do Focus Poder

A entrada triunfal de Wagner e correligionários na Assembleia Legislativa encerrou a polêmica sobre quem controlaria o partido União Brasil no Ceará. Ao seu lado, novas e velhas lideranças. Dignos de nota, o ex-governador Lúcio Alcântara, intelectual e personagem presente em cada episódio significativo da politica cearense nas últimas décadas e o Prefeito Roberto Pessoa, hábil articulador parlamentar.

Em comum, não apenas o passado no PFL, mas o profundo conhecimento dos porões da politica tradicional. Dois expoentes que personificam, cada um a seu modo, as vicissitudes, ressentimentos e contradições da politica tradicional do Estado.

Vitorioso nessa queda de braços inicial, Wagner se apresenta como legatário de um futuro promissor, sem as peias da família Ferreira Gomes e seus aliados. Nesse sentido, procura mobilizar ressentimentos que possam substituir a clara ausência de projetos para o futuro ou mesmo ideias que explicitem o que ele quer negar no presente.

Surge daí, quase que espontaneamente, o velho espetáculo da politica onde até mesmo saltos para trás podem ser configurados como avanço. Para isso, a subjetivação e a fulanização dos adversários são meios especialmente promissores, e mesmo não tendo a inteira noção desse processo, oferece o seu rosto e história como amálgama entre esse presente de frágeis nuances e promessas de dias melhores.

Em Quixadá, os discursos e a deferência de Bolsonaro a Wagner indicam o tom da campanha e a afinidade ideológica que ultrapassam o pragmatismo eleitoral. Nunca é demais lembrar que ambos foram doutrinados através de uma perspectiva rebaixada sobre ordem e disciplina, com a naturalização da aplicação da força estatal contra as pessoas como pedagogia, mesmo que destruindo almas. São, em suma, produtos acabados da face punitivista do Estado.

O inventario da vida pessoal dos mesmos expressa claramente essa profunda alienação. Na atmosfera do confronto em que suas vidas foram carregadas, nunca desconfiaram que a disciplina e a ordem sobre o capitalismo é definida materialmente. O que cada um pode, disciplinada e ordeiramente fazer, desde comer, morar, ou mesmo divertir-se é definida pelo valor na carteira, mais que por discursos ou vontade. A disciplina imposta pelo vil metal.

A história de Bolsonaro no exército, décadas atrás, e a organização criminosa de um motim policial por Wagner mais recentemente são um fio e um elo que se conectam poderosamente.

O que se segue é que, no construto das duas personalidades e a forca social por elas mobilizadas, a velha ideia de que a verdade muitas vezes nos escapa parece encontrar nesse mundo um tempo perfeito. Nunca existiram tantos esconderijos como agora.

No centro desse contexto aumentam as preocupações pelo fato de que, desde a era Tasso, nenhum adversário ameaçou quebrar a continuidade que colocou o Ceará como vitrine entre os Estados brasileiros melhor gerenciados e cujas implicações sociais positivas, apesar das dificuldades estruturais, são de conhecimento nacional.

Uma complexa e estável conquista que só foi possível porque a lógica anterior deixada pelo grupo do CIC- Centro Industrial do Ceará-denominação usada para indicar a origem do grupo vitorioso em 1986, foi mantida em seus pressupostos gerenciais e fiscais elementares, mesmo que negada ou aprimorada pontualmente diante de visões ideológicas distintas. No centro, a persistência da extrema desigualdade social.

A criação pelo Governador Camilo Santana de um conselho de “Governadores do Ceará”, algo raro no país, deveria ser entendido em toda a sua simbologia como a máxima representação desse processo.

Outro ponto cheio de significado, foi a rápida entrega do comado do PSDB para Chiquinho Feitosa, soterrando de vez as esperanças daqueles que enxergavam na ótima relação do mesmo com Antonio Carlos Magalhaes Neto, a garantia da vitória sobre Wagner e a sua consequente desidratação como candidato. Na verdade, a guerra pelo controle do partido estava sendo travada entre ACM e Luciano Bivar, ou mais exatamente entre os donos do velho PSL e DEM.

Próximo de ACM, longe de Bivar. Para ACM, a costura na Bahia já estabelecia um emaranhado de variáveis que lhe sugeririam não quebrar lanças a favor de antigos aliados, como Chiquinho, principalmente em territórios sem tanta relevância nacional como o Ceará.

Ao aceitar o comando do PSBD, Chiquinho Feitosa trouxe para si a difícil tarefa de reerguer um partido tão estranho à sua história que acaba por revelar o ocaso da sigla no estado. Querido por muitos, Tasso talvez acredite ter encontrado nele um timoneiro capaz de retirar do encalhe uma nau com muito peso histórico, mas ausente de mãos que possam recolher âncoras.

Agora, resta esperar os próximos passos do grupo governista através da indicação do candidato ou candidata que poderá fazer frente ao adversário que ganhou musculatura. As dúvidas de que a derrota de Chiquinho Feitosa não significaria necessariamente a vitória de Wagner, alimentadas até mesmo por Cid Gomes nas redes sociais, não ultrapassaram o tempo cartorial para que a papelada e acertos finais garantissem ao mesmo a sua inscrição na justiça eleitoral.

Erra no entanto, quem acredita que os movimentos de Cid em momentos extremos são vazios de significado ou revestidos de meros caprichos. E em politica tudo é possível. Novos acertos nacionais entre Ciro e o União Brasil, apesar de improváveis, poderiam modificar esse cenário local, apesar da emergência temporal. E se Bivar quer federais para o seu partido, o grupo no poder dispõe de força suficiente para garantir tais exigências.

Enfim, caso não surjam surpresas e Wagner esteja inteiramente viabilizado, um enorme serviço ao Estado poderá estar, contraditoriamente, em curso, através da unificação de forças que, na ausência de um adversário real, estariam concentradas em interesses particularizados. Na esteira desse processo, Camilo e Lula passam a ser decisivos para a vitória, mas não podem impor qualquer nome que não conte com as benções de Cid e Ciro.

Nesse jogo complexo Wagner procura equilibrar-se com cuidado. De um lado da balança Bolsonaro, como no evento dessa quarta feira, dia 23, em Quixadá. Do outro Lula, a quem evita dirigir criticas diretas. Com isso, supõe ser capaz de deslocar eleitores tanto de lula quanto de Bolsonaro para a sua candidatura.

Aposta que, não sendo um candidato do PT, qualquer outro escolhido poderá ser acusado de mero preposto de Ciro e Cid, sugerindo com isso a necessidade do fim de um reinado para que o seu possa começar. Curiosa a crítica do mesmo sobre os clãs familiares e a sua vontade de emplacar a esposa como Deputada Federal pelo Republicanos.

Partindo da mesma avaliação, Luizianne Lins emite sinais de que poderia deixar o PT para concorrer ao Governo, caso o nome acolhido não seja capaz de unir virtuais dissidentes. A sugestão passada através da imprensa de uma possível ida para o MDB de Eunício, ex-Ministro de Lula, indica que, como Marília Arraes em Pernambuco, ela requer mais atenção.

Definido o time da oposição, resta agora esperar a escalação governista que sabe contar com nomes fortes e competitivos como Roberto Cláudio, Izolda Cela e Evandro Leitão na primeira linha. O grande problema é que, na pia batismal da politica cearense em que muitos sonham em imergir a cabeça, a água é exígua e conta com poucos sacerdotes autorizados a exercer os ritos de passagem.

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