[Parabola, exercícios bem aviados de inacreditáveis metáforas politicas]
“Com medo da voz profunda e do ser monstruoso…”, “Odisseia”, Homero, Livro IX.
Polífemo era um cíclope dotado de um olho enorme sobre a testa, no lugar no qual temos os nossos olhos. Servia-se dos seus poderosos atributos para enganar as suas vítimas.
Os gregos foram criaturas geniais e criativas, dotadas de qualidades e virtudes únicas, das quais se serviam para convencer ou iludir os seus contemporâneos. A mitologia, os deuses e os que fizeram habitar o Olimpo, são mostra da sua fértil imaginação e da forma poderosa de representação que lhos conferiu.
Polifemo, este monstruoso cíclope, iludia com evidências improvisados e com as palavras, as criaturas ingênuas. De olho aberto, nada via. De olho fechado, tudo enxergava.
Polifemo teria feito carreira vitoriosa na política, convencendo as criaturas com argumentos nos quais não acreditavam, e mentindo como se de verdades falasse.
Era hábil em metáforas e na dialética e conhecia como pouco os mecanismos da semântica política.
Viveu Polifemo antes de Maquiavel, não chegou a conselheiro do Príncipe como ocorreu ao secretário Florentino. Porém conhecia, como poucos, os mecanismos do governo e do Estado, dos homens e do Poder, da vaidade das pessoas e da sua incontrolável ambição.
Falava pouco, sequer escrevia, a exemplo de como Maquiavel servia-se do seu talento. Por essa razão, não tinha porque justificar-se, em eventuais deslizes de linguagem, tampouco desculpar-se pelas perversas intenções que fossem associadas a palavras suas, reconhecidas como “fora de contexto”…
Polifemo, com seu olho tentacular, tela panorâmica em terceira dimensão, tudo via e tudo antecipava, armado da poderosa imaginação e de seus prognósticos infalíveis.
Em política, conta deveras o resultado, não a forma como alcançá-lo. Maquiavel diria com outras palavras sobre meios e fins, devidamente considerados.
