Trinta anos de dedicação à análise política nos concede alguma perspicácia para acertar no alvo, mesmo em um cenário político extremamente fluido, cuja energia dinâmica está no rebuliço da WEB e suas redes sociais. Em 24 de abril, há cerca de 100 dias (uma eternidade, em política) assinei um texto no Focus Poder cujo título foi o seguinte: Pesquisa Atlas em SP confirma disputa polarizada; em Fortaleza também será assim?
Bingo! Não havia dados de pesquisa em Fortaleza suficientes para apontar que a coisa caminharia nesse sentido. Porém, havia diversas sinalizações no mercado político do Brasil com seu recente histórico polarizado e algumas pesquisas, como as da AtlasIntel, nos grandes centros, a exemplo de São Paulo.
Já na abertura, aquele texto de 100 dias atrás, sentenciou: “A pesquisa AtlasIntel que levantou as intenções de voto na disputa pela Prefeitura de São Paulo (veja aqui) oferece uma vistosa pista acerca de como está a cabeça do eleitorado brasileiro, inclusive o de Fortaleza. Trocando em miúdos: as cabeças se mantêm polarizadas. Lula X Bolsonaro”.
Na sequência, o citado texto dos idos de abril passado, alertou e sugeriu parcimônina na análise considerando que aquela pesquisa Atlas tratava de um recorte paulistano. Mas, fiz a minha aposta: “O que acontece na maior Capital do País costuma se reproduzir no resto do Brasil, mesmo que em diferentes graus e de acordo com as circunstâncias políticas de cada grande cidade”.
Sugiro a leitura daquele texto. Quase nada mudou desde então. A diferença fundamental é que, agora, temos novas informações. Infelizmente, não posso expor aqui os detalhes dos números da pesquisa AtlasIntel contratada pelo Focus Poder (leia aqui sobre essa parceria) acerca da disputa de Fortaleza. Motivo: a divulgação foi barrada por liminar pedida pelo Capitão Wagner (UB) e concedida por um juiz eleitoral (leia aqui a respeito).
Sendo assim, a questão que pesa é a seguinte: os fatos conhecidos até aqui só reforçam a análise de que nossa roça urbana está (ainda que parcialmente) infestada pela praga da polarização.
Pelo que se sabe de Fortaleza, há quatro candidatos engalfinhados. Um no calcanhar do outro. Porém, há as linhas de aclives e declives que sugerem as tendências. Os aclives apontam para a prevalência da polarização. Os declives, indica que há um bloco que está sob grande risco de ser engolido pela postura polar e dividida do eleitorado.
Serão duras as tarefas de José Sarto (PDT), Wagner e outros no trabalho de se inserir em meio à guerra entre a esquerda e a direita. Entre o lulismo e o bolsonarismo. Caso o sentimento e os sinais de polarização prevaleçam no primeiro turno, chegando ao segundo, fiquem certos: os pesos de quem ficar pelo caminho não serão decisivos.
Percebam: não foi á toa a vinda de Lula a Fortaleza para o lançamento da candidatura de Evandro Leitão (PT). Fortaleza parece ser uma das únicas grandes capitais do país que terá Lula como cabo eleitoral fisicamente presente. Isso por uma decisão da cúpula do PT de preservar as alianças. Afinal, há candidatos rivais que são de partidos ba base lulista.
Sim, sabe-se que Lula é um cabo eleitoral de muito peso. Daí o grande incômodo do PDT local, que a nível nacional, é base de Lula. Porém, o caso do Ceará é diferente. Este PDT, da base de Lula em Brasília e até sentado em um Ministério, é também o de Ciro Gomes, um franco atirador que tem como alvo principal as ações da gestão petista no Governo Federal.
Na mesma toada, não foi à toa a vinda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 11 de abril passado, para bater o martelo no prego da candidatura de André Fernandes (PL) na Capital do Ceará. E atentem: Fernandes já anuncia nova visita de Bolsonaro para os próximos dias. Para o jovem André, um cabo eleitoral de peso e capaz de fazer sangrar as outras candidaturas mais à direita.
E assim, mantidas tais condições de temperatura e pressão, caminhará a disputa pela Prefeitura de Fortaleza.
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+ Que papelão, Capitão!