Por Paulo Elpídio de Menezes Neto
Articulista do Focus
Li a crônica de Angela Barros Leal e pus-me a revirar os velhos negativos e os “slides” que fiz de algumas fotos mais expressivas que guardei com certo orgulho.
É verdade que hoje já não fotografo com o mesmo empenho, como o fazia a cada deslumbramento pelo mundo afora. Trabalho, hoje, com o espelho das lembranças, ajudado pela retina que a idade não afetou, porém esquecido do obturador de uma Nikon que guardo, preguiçosa, aposentada das façanhas de outros tempos. Como os que carregam por compulsão as minhas inclinações, não abandonei o hábito de fotografar, agora, faço-o, sem entusiasmo, nestas desconformes miniaturas de câmera mas que os celulares exibem.
Tive outras câmeras, antes, uma Kodak, a primeira, reflex, que Antônio Albuquerque vendeu na Aba-Film, a um adolescente buliçoso como era eu por aqueles tempos. Mas não vou trair a minha Nikon que a guardo ainda em meio a outras câmeras tão antigas quando a minha carreira de fotógrafo amador.
O que fazemos do que fotografamos por aí, em família ou por entre estranhos, em busca de fixar as imagens que mexerão conosco, nos álbuns e nas gavetas ? Ou quando não mais as encontramos, perdidas para sempre nos nossos guardados?
Lembro-me de dois flagrantes cujos registros ficaram na memória, desaparecidos entre álbuns ou gavetas desfeitos pelo tempo e perdidas pelo esquecimento.
Fixei a velha senhora russa, a varrer as calçadas de uma conspícua edificação na Praça Vermelha que, de quando em quando, lançava o que recolhia pelas janelas salientes dos porões da imponente edificação…
De outra feita, o ônibus de turismo parou diante do semáforo, em Berlim. Da minha janela percebi que uma família reunida para o jantar servia-se, silenciosa, que de onde eu estava não poderia ouvir o que falavam, até que o carro deu partida.
O que terão feito o tempo e aquelas pessoas a si próprias, nestes anos todos que nos separam?