
O fato: A possibilidade de liberar a venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) em supermercados tem gerado intenso debate entre representantes do varejo, especialistas em saúde e lideranças do setor farmacêutico. O projeto, ainda em análise pelo governo, busca ampliar o acesso a esses medicamentos enquanto tenta conter a inflação nos alimentos. No entanto, os riscos à saúde pública e os impactos econômicos dividem opiniões.
Deusmar Queirós alerta sobre riscos: Em um vídeo amplamente compartilhado, Deusmar Queirós, fundador da rede de farmácias Pague Menos, criticou duramente a proposta. Ele apontou que medicamentos como paracetamol e dipirona, apesar de isentos de prescrição, podem causar efeitos colaterais e interações perigosas se usados incorretamente. “Quem vai orientar o consumidor? O padeiro? O açougueiro? O governo não tem estrutura para fiscalizar”, afirmou. Ele também destacou que, em cidades menores, pequenos estabelecimentos que se autodenominam supermercados poderiam vender medicamentos sem qualquer controle técnico.
Queirós reforçou que a saúde da população deve ser prioridade. “Os medicamentos não podem ser tratados como mercadorias comuns, como carne ou verduras. É um risco muito grande para o bem mais precioso da população”, declarou.
Confira o vídeo:
Disputa entre farmácias e supermercados: A discussão reflete uma disputa direta entre dois gigantes do varejo, como já citado pelo Focus. De um lado, redes de supermercados argumentam que a venda de MIPs aumentaria a conveniência para os consumidores e geraria receita adicional, permitindo a redução dos preços de alimentos. A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) apoia a medida, destacando que a integração de medicamentos ao portfólio poderia ampliar margens e atrair mais clientes.
Por outro lado, representantes das farmácias, como a Abrafarma, destacam os impactos negativos da proposta. Sérgio Mena Barreto, presidente da entidade, afirma que os MIPs representam cerca de 30% do faturamento do setor, sendo essenciais para a sustentabilidade econômica das farmácias, que empregam cerca de 2 milhões de pessoas e atuam em 99% dos municípios brasileiros.
O deputado estadual Marcos Sobreira (PDT) já sugeriu, como apontado pelo Focus, proibir no Ceará a venda de medicamentos, inclusive os isentos de receita, em estabelecimentos que não sejam farmácias, conforme definido pela Lei Federal 13.021/14.
Questão de saúde pública: A principal preocupação das farmácias e de especialistas é com a saúde pública. Farmacêuticos são essenciais para orientar sobre o uso adequado de medicamentos, evitando automedicação e efeitos adversos. “A venda em supermercados desconsidera essa necessidade básica. Medicamento não é produto de conveniência”, alertou Barreto.
Impacto no consumidor: A disputa entre farmácias e supermercados vai além do mercado: envolve saúde, geração de empregos e acesso a medicamentos. Enquanto supermercados prometem conveniência e redução de custos, farmácias alertam para o risco de perda na qualidade do atendimento e possíveis altas nos preços de medicamentos de prescrição, que poderiam ser reajustados para compensar eventuais perdas financeiras.
Um debate que vai além do mercado: A decisão sobre permitir a venda de MIPs em supermercados terá impacto direto no dia a dia dos brasileiros. Embora o governo tenha como objetivo conter a inflação e facilitar o acesso a medicamentos básicos, especialistas e empresários alertam que a medida pode trazer consequências graves para a saúde pública e o equilíbrio do setor.