O fato: O governo brasileiro recusou uma proposta da gestão americana para classificar as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. A sugestão, apresentada nesta terça-feira (6) por representantes do Departamento de Estado dos EUA em reunião em Brasília, foi rejeitada com base na legislação brasileira e na avaliação de que as atividades das facções não têm caráter ideológico.
A delegação americana foi liderada por David Gamble, chefe interino da coordenação de sanções do Departamento de Estado. Segundo ele, o FBI identificou atuação do PCC e do CV em pelo menos 12 estados dos EUA — incluindo Nova York, Flórida e Nova Jersey —, onde estariam envolvidos em esquemas de lavagem de dinheiro com apoio de brasileiros.
A proposta tinha como objetivo permitir que Washington aplicasse sanções mais severas com base nas leis antiterrorismo americanas. Para os EUA, a classificação poderia ampliar o alcance de medidas contra as redes de apoio internacional das facções.
Brasil impõe limites jurídicos e políticos: Em resposta, representantes dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública, além da Polícia Federal, argumentaram que o ordenamento jurídico brasileiro não permite enquadrar facções criminosas como grupos terroristas, já que suas motivações são exclusivamente financeiras, e não ideológicas ou político-religiosas — critério previsto na Lei Antiterrorismo de 2016.
O governo Lula também reafirmou o compromisso com o combate ao crime organizado, citando ações como o isolamento de lideranças em presídios federais, operações de inteligência e cooperação entre forças de segurança e Ministério Público. A recusa foi interpretada como uma defesa da soberania jurídica e da abordagem nacional sobre segurança pública.
Contexto: A visita de Gamble ao Brasil foi marcada por especulações políticas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou a anunciar que a viagem teria como objetivo articular sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, por suposta violação de liberdades civis. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também se reuniu com a comitiva americana, negou que o tema tenha sido tratado oficialmente.