Nos primeiros meses de 2023, o Brasil testemunhou um episódio diplomático que, para muitos, passou despercebido, mas que carrega um simbolismo preocupante. Navios de guerra da República Islâmica do Irã aportaram e permaneceram no porto do Rio de Janeiro por um tempo que não condiz com as práticas tradicionais da diplomacia naval.
O fato, além de inédito, não é trivial. A presença militar de um dos regimes mais hostis ao Ocidente, a Israel e às democracias liberais, suscita questionamentos que vão muito além da cortesia diplomática.
O desconforto se agrava quando se observa o alinhamento ideológico do atual governo brasileiro, cuja postura hostil a Israel já extrapolou os limites da diplomacia e entrou, de forma inequívoca, no campo da agressividade ideológica. Não por acaso, o presidente do Brasil passou a ser considerado persona non grata em Israel — um fato inédito na história das relações entre as duas nações.
Se é certo que os laços diplomáticos não foram formalmente rompidos, é igualmente evidente que há hoje uma ruptura simbólica e ética, que não reflete, contudo, o sentimento da maioria do povo brasileiro. Pesquisa após pesquisa, manifestações públicas e movimentos sociais revelam que uma parcela significativa da sociedade brasileira nutre profunda admiração por Israel, por sua história, sua resiliência e os valores que defende.
Foi nesse cenário que surgiram rumores, com plausibilidade discutível, é verdade, de que os encouraçados iranianos poderiam ter interesses além da diplomacia, incluindo o acesso a recursoss estratégicos como o urânio brasileiro. Tecnicamente improvável, sim. Mas geopoliticamente, a simples hipótese já revela o nível de desconfiança que paira sobre os bastidores desse episódio.
Seja qual for a real motivação, o gesto não é ingênuo. A recepção amistosa a embarcações militares de um regime que financia o terrorismo internacional, persegue minorias, oprime seu próprio povo e declara abertamente seu desejo de exterminar Israel, é um sinal claro de que a diplomacia brasileira atravessa um perigoso desvio de rota.
Trata-se de uma diplomacia que deixou de ser pautada pelo equilíbrio, pelo pragmatismo e pelo respeito às instituições democráticas, para se tornar refém de alinhamentos ideológicos seletivos. Aproxima-se de regimes autoritários, normaliza relações com ditaduras e, simultaneamente, ataca aliados históricos, desrespeita nações democráticas e macula a própria imagem do Brasil no cenário internacional.
Se a história tem algo a nos ensinar, é que erros na condução da política externa não tardam a apresentar sua fatura. E, quando ela chega, não pesa apenas sobre os governos de ocasião, mas sobre o destino de toda uma nação.
O Brasil não merece ser reduzido a mero palco de encenações geopolíticas de regimes que desprezam a liberdade, os direitos humanos e a democracia.
Shalom