Halleluya: a festiva resistência do catolicismo

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Festival Halleluya 2025 reúne 300 mil pessoas em uma só noite

Na semana que passou realizou-se a 27a edição do Festival Halleluya.

Organizado pela Comunidade Católica Shalom, fundada por Moysés de Azevedo em 1982 na capital do Ceará, o evento é hoje o maior festival de música católica do país, com edições já em algumas outras cidades do Brasil e do exterior.

Embora seus organizadores não gostem de assumir, o evento surgiu com o intuito de medir força como atrativo para os jovens com uma das maiores micaretas do país, o Fortal, que chegou aos seus 30 anos.

Para se ter uma dimensão do evento, enquanto o Fortal esperava reunir 150 mil pessoas em suas quatro noites, o evento católico recebeu mais de 300 mil pessoas apenas na noite de sábado, quando uma das atrações era Frei Gilson, o principal nome contemporâneo do catolicismo midiático, para usar uma expressão de Brenda Carranza. Quem tentava se deslocar pelas proximidades do aeroporto de Fortaleza no sábado à noite, como eu mesmo, deparava-se com um engarrafamento quilométrico, no entroncamento (em forma de cruz) que dá acesso à avenida do Condomínio Espiritual Uirapuru, local de realização do festival.

A cidade estava, literalmente, parada para ver o Frei e reafirmar a fé católica.

Caravanas de diversos lugares, inclusive de fora do Ceará, para lá se dirigiram nas cinco noites, para ver importantes nomes do catolicismo carismático, tais como a banda Adoração e Vida (ex-vida Reluz), Gabriela Sá, Suely Façanha, Adriana Arydes, Padre Fábio de Mello, Missionário Shalom e Davison Silva; além de nomes conhecidos da música católica, como Irmã Kelly Patrícia e a banda Rosa de Saron. No encerramento da festa, ninguém menos do que Padre Marcelo Rossi, o responsável pela popularização da Renovação Carismática Católica nos anos 1990 em diversos programas de TV – Xuxa, Gugu Liberato, Faustão e Hebe Camargo estão entre aqueles que se renderam ao ethos musical do padre.

O festival celebrou o catolicismo em tempos modernos; não qualquer catolicismo, mas aquele que, revestido da gramática da Renovação Carismática e da performatividade do mundo digital, busca apresentar-se como resistente (frente ao avanço de outras crenças) e atento aos anseios do homem contemporâneo.

Trinta e dois sacerdotes receberam mais de quatro mil e trezentas confissões, dando mostras força da tradição renovada do catolicismo.

O êxito do evento, para além dos números (inclusive em termos de engajamento digital), mostra-se por outros elementos:

1- a ampla cobertura da imprensa local e nacional (sendo noticiado no maior e mais importante telejornal do país, o Jornal Nacional);

2- a parceria indiscutível da Arquidiocese de Fortaleza, que esteve presente em todos os momentos de divulgação do evento e usou, também, sua estrutura para nomeá-lo como “evento da Arquidiocese” (o atual arcebispo segue os passos do anterior, com intensas agendas com a Comunidade Shalom);

3- presença de políticos de direita, inclusive André Fernandes (candidato a prefeito de Fortaleza que contou com uma vice da Comunidade) e outros deputados, nos dias do evento, mostrando a importância daquele público como eleitorado a ser cativado (se já não o tiver sido);

4- e, vejam só, um stand da Prefeitura de Fortaleza, do PT, em que se viam ações no campo da inclusão (o “espaço girassol”), capitaneadas pela primeira-dama, Cristiane Leitão.

Muitas imagens do evento viralizaram. A mais importante delas, talvez, seja exatamente aquela em que se veem milhares de celulares ligados durante o show de Frei Gilson, momento no qual mandou um recado: não siga artistas, influencers ou políticos, pois “nenhum morreu na cruz por você“; “como cristão eu só sigo Jesus Cristo“.

Será mesmo? Terá o recado sido entendido? Mais do que isso: será que aquele público distingue a mensagem do Evangelho das ideologias políticas que parte de suas lideranças buscam impor-lhes como se fosse “a verdade” a “libertar”?

O que importa dizer é que, pós-revelação dos dados do Censo 2022, o Festival Halleluya mostra ao catolicismo que:

1-não há como garantir a sobrevivência do número de fiéis sem a gramática moderna das redes, das artes e do emocionalismo, o que o põe, diretamente, em relação de dependência com a expertise da Renovação Carismática e das Novas Comunidades, como é o caso da Shalom;

2-o grande desafio é, assim sendo, mostrar-se como atraente aos mais jovens, sempre tidos como o “futuro”;

3-continua a ter importância fundamental o trabalho de padres, especialmente jovens, na manutenção do ethos católico entre os brasileiros (continuam sendo eles figuras centrais no trabalho missionário legitimado – a questão é: como fomentar novas vocações?).

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