
Revisitar o Banco do Nordeste é sempre uma viagem no tempo — feita de afetos, memórias e reencontros. Trabalhei ali por 10 anos e foi nesse espaço que vivi algumas das melhores (e também das mais desafiadoras) experiências da minha vida. Desta vez, voltei com um novo propósito: participar, como gerente de Comunicação e Marketing da CEGÁS, de uma reunião com a diretoria do banco para apresentar as vantagens do gás natural como solução energética sustentável.
Ao circular pelos corredores da sede no Passaré, em Fortaleza, fui tomado por uma constatação: as obras de arte que compõem o espaço físico do Banco do Nordeste seguem exercendo um papel fundamental na experiência de quem trabalha, visita ou simplesmente transita por ali. Com quase 1.300 obras de artistas do Nordeste, o acervo da instituição é uma galeria viva, que vai da arte barroca à contemporânea. É, também, uma referência nacional: foi a primeira coleção concebida para valorizar exclusivamente a produção artística nordestina.
Essa experiência nos convida a refletir: por que tão poucas empresas e cidades seguem esse exemplo?
Obras de arte em espaços públicos e privados não são apenas adornos estéticos. São investimentos. Estratégias de valorização simbólica e patrimonial. Ativos que geram impacto social, turístico, emocional e até econômico. Elas contribuem para humanizar ambientes, criar identidade, estimular o pertencimento e inspirar a criatividade — seja em uma repartição pública, em um edifício corporativo ou em uma rua da periferia.
Recife entendeu isso há décadas. Em 1999, sancionou a Lei nº 16.487, que obriga edifícios com mais de 2 mil m² a incluir uma obra de arte visível ao público em sua arquitetura. O impacto da medida vai além do visual: a cidade passou a integrar arte à sua paisagem urbana, estimulando o mercado artístico e promovendo o acesso à cultura de forma orgânica.
Tudo começou em 1961, quando o escultor Abelardo da Hora (1924-2014), então diretor da Divisão de Praças e Jardins da cidade, na gestão do prefeito Miguel Arraes (1916-2005), concebeu uma lei, pioneira, exigindo que os prédios que passassem a ser construídos no município abrigassem obras de arte.
Fortaleza, por sua vez, tem se destacado com iniciativas como o Festival Concreto de Arte Urbana e o Festival de Esculturas Efêmeras, que transformam muros e praças em telas e palcos. Essas ações descentralizam o acesso à arte, movimentam a economia criativa e colocam a cidade no radar da arte pública contemporânea.
Na esfera empresarial, incluir arte no ambiente de trabalho não é apenas uma ação de marketing ou decoração. É também uma forma de expressar valores, afirmar compromissos com a cultura e o bem-estar e criar ambientes mais saudáveis e inspiradores. Um quadro, uma escultura ou um mural podem mudar a atmosfera de um local — e o estado de espírito de quem o ocupa.
Quando lideramos a criação do inventário do acervo artístico do Banco do Nordeste, ao lado do então presidente Roberto Smith, não estávamos apenas catalogando obras: estávamos reconhecendo o poder transformador da arte, sua capacidade de construir memória, identidade e, sobretudo, futuro.
Na CEGÁS, temos as salas e corredores enriquecidos visualmente com obras e fotografias das principais paisagens do Ceará. Os nomes das salas de reuniões levam referências de nossa geografia como Sertões, Jericoacoara, Cariri, Icapuí e Mucuripe. Na sala da área de Comunicação, onde trabalho, nossa criatividade é estimulada diariamente com uma obra lindíssima de Marcos Oriá e um painel gigantesco com uma foto do ateliê de mestre Espedito Seleiro, feita pelo premiado fotógrafo Jarbas Oliveira.
O Brasil precisa de mais arte — nos escritórios, nas praças, nos hospitais, nos centros administrativos, nos muros das escolas. Precisa de mais políticas públicas e incentivos privados que compreendam a arte não como luxo, mas como linguagem, legado e ferramenta de transformação.
Investir em arte é investir na alma dos lugares. E nenhum investimento dá retorno maior.
