As previsões apocalípticas, muitas vezes acompanhadas por um tom sensacionalista, têm marcado a história humana, principalmente nos momentos de virada de ciclos, como o fim de um ano ou uma nova era. A chamada “indústria do apocalipse” — composta por profetas, teorias conspiratórias e narrativas de catástrofe — encontra espaço fértil em um mundo cada vez mais ansioso por respostas rápidas a crises globais, sejam elas ambientais, políticas ou sociais. Em seu livro O Espírito da Esperança, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han oferece uma perspectiva profunda sobre como essa fixação no desastre pode ser vista como uma expressão de nossa era marcada pela desesperança, mas também como uma oportunidade para repensar o futuro.
As previsões de desastres sempre atraíram a atenção popular, desde as interpretações dos escritos de Nostradamus até as conspirações modernas sobre o “fim do mundo” em 2012. Essa indústria prospera na exploração do medo e da incerteza, alimentando narrativas catastróficas que muitas vezes encontram apoio em pseudociências ou especulações.
A mídia desempenha um papel central nesse fenômeno, amplificando essas vozes e contribuindo para a percepção de que estamos à beira do colapso. O mercado também se aproveita, com produtos de sobrevivência, bunkers e até guias espirituais para “preparar” as pessoas para o inevitável. Essa fixação no apocalipse reflete o colapso de nossa capacidade de imaginar o futuro como algo positivo.
Em O Espírito da Esperança, Han discute como a esperança é essencial para a saúde mental e social, funcionando como um antídoto para o desespero. No entanto, ele ressalta que vivemos em uma época de exaustão, onde o medo constante e o excesso de informações acabam obscurecendo nossa capacidade de projetar um futuro promissor.
O apocalipse, nesse contexto, torna-se um reflexo do esgotamento coletivo. Não é apenas o medo de um fim literal, mas também a percepção de que as estruturas de nossa sociedade — política, economia, meio ambiente — estão desmoronando. Essa desesperança é agravada pela aceleração tecnológica e pela sensação de que somos incapazes de acompanhar as mudanças.
A esperança não é ingênua; é uma força transformadora que nos permite encontrar sentido mesmo em meio ao caos. Ela não nega os desafios, mas propõe uma relação diferente com o futuro: em vez de temê-lo, podemos reconstruí-lo.
No final de cada ano, surgem previsões que oscilam entre catástrofes climáticas, colapsos econômicos e até invasões alienígenas. Esses “profetas do apocalipse” contemporâneos refletem uma necessidade humana de encontrar sentido em períodos de transição.
Aline Lima é psicóloga, pós-graduada em Psicopedagogia e Psicopatologia, com formação em coaching executivo. Especialista em Gestão de Negócios e Programa CEO e Programa COO pela FGV. É CEO (Libercard), liderando desenvolvimento de produtos, equipes e relações institucionais.