O arco-íris, a corrida e os recomeços: lições da natureza para a vida profissional; Por Paulo Mota

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Quando eu era criança, em Sucesso — nome sugestivo da cidade onde nasci, nos grotões do Ceará — o arco-íris era um espetáculo raro, um toque mágico nos dias chuvosos. Como na música de Roberto Carlos, ele nos enchia de esperança: além do horizonte, haveria um lugar bonito para viver e uma botija de ouro para nos trazer abundância. Essa imagem vem do universo do meu avô Tarso Feitosa, que narrava histórias no alpendre da fazenda Sítio do Meio, cenário sempre presente no sertão das minhas memórias.

Recentemente, vivi um momento simples, mas profundamente simbólico: após meses afastado por uma grave fratura no braço, fiz minha primeira corrida leve. Foi um recomeço tímido, marcado por cautela, mas também por um forte sentimento de vitória. Durante o percurso, um arco-íris surgiu no céu. A cena me transportou de volta à infância e trouxe uma reflexão poderosa sobre a vida profissional e os recomeços que ela nos impõe.

O arco-íris como símbolo de transformação

O arco-íris é um fenômeno natural carregado de significados culturais e históricos. Ele aparece após a chuva, quando luz e água se encontram, formando uma ponte de cores no céu. Desde a antiguidade, ele é associado a novos começos e esperança depois de momentos difíceis:
• Na mitologia nórdica, é a ponte entre deuses e humanos.
• Na tradição cristã, simboliza a aliança entre Deus e a humanidade após o dilúvio.
• Em culturas indígenas, representa harmonia e conexão com a natureza.

Na ciência, o arco-íris é fruto da refração e reflexão da luz solar nas gotas de água — e só acontece sob condições específicas: luz, água, ângulo e perspectiva. Ele é, ao mesmo tempo, realidade física e convite simbólico: um lembrete de que, após a tempestade, há beleza; que o caos pode ser reorganizado em cores; e que uma pausa, ainda que forçada, pode anteceder um espetáculo.

A pausa e o recomeço na vida profissional

Quantos “arco-íris” surgem em nossas trajetórias? Quantas vezes precisamos parar, mudar de rota ou interromper projetos? Seja por uma fratura literal ou metafórica, somos desafiados a desacelerar e repensar caminhos.

Essas pausas são, muitas vezes, dolorosas, mas também férteis. É nelas que reorganizamos prioridades, adquirimos novas habilidades, fortalecemos a resiliência e aprendemos a respeitar nossos limites. Recomeçar exige coragem, paciência e confiança: os primeiros passos são lentos, mas, ao perseverar, novos horizontes se abrem, novas perspectivas surgem, novas cores aparecem.

Recomeçar: uma competência estratégica

No mundo corporativo, muitas vezes se glorifica o avanço contínuo, a produtividade ininterrupta. Mas a capacidade de recomeçar é, muitas vezes, mais valiosa do que manter o ritmo.

Empresas que se reinventam após crises, profissionais que mudam de área ou iniciam novos projetos, times que se reerguem após derrotas — todos dependem da disposição para recomeçar. É essa habilidade que permite transformar rupturas em oportunidades.

O arco-íris não é uma linha contínua: ele é uma ponte entre o que foi e o que será. Assim também são os recomeços: travessias nem sempre confortáveis, mas necessárias e cheias de potencial.

Para refletir: qual é o seu arco-íris?

Na minha corrida, o arco-íris apareceu como um presente e um lembrete: há beleza após a tempestade.

E você? Qual é o seu arco-íris? Que recomeço está vivendo — ou se preparando para viver?

Que nunca nos falte coragem, serenidade e esperança para recomeçar.

Paulo Mota é mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, especialista em Comunicação Estratégica, Projetos Culturais e Gestão Pública. Ex-Folha de Sã o Paulo, El País e Banco do Nordeste. Atualmente é gerente de Comunicação e Marketing da Companhia de Gás do Ceará

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