No laudo em que avaliou em R$ 5,1 milhões o conjunto de joias apreendidas pela Receita com uma comitiva do governo Bolsonaro em outubro de 2021, a Polícia Federal que os objetos apresentavam ‘marcas de uso’ e precisariam passar por um ‘procedimento de revisão e reparos especializados’, visando a manutenção de sua ‘integridade’.
Os peritos não indicam exatamente a origem dos vestígios de uso das peças – se o presente do rei saudita já era de segunda mão ou se o desgaste das joias foi por falta de zelo no transporte ou posterior acondicionamento pelo governo Bolsonaro.
Datado de junho, o documento também mostra como as joias dadas ao presidente Jair Bolsonaro pela Arábia Saudita ‘possuem design estilizado e modelo exclusivo sem informações divulgadas publicamente no comércio’. A PF chegou a pedir informações oficiais com a fabricante Chopard sobre as peças.
O laudo foi elaborado por técnicos dos Laboratórios de Mineralogia e Gemologia do Instituto Nacional de Criminalística e no Laboratório de Microvestígios. Durante a perícia, foram identificados ‘pontos sensíveis e fragilizados’ nas joias ‘com risco de desengate de parte de seus segmentos’.
Segundo os especialistas que analisaram o conjunto, os pontos de ‘fragilidade’ encontrados nas peças não eram ‘constatáveis facilmente a olho nu, não prejudicando a sua estética a vista desarmada’. De outro lado, o grupo apontou a necessidade de ‘serviços de revisão, conferência e reparo das condições das cravações, com ações de recuperação simples a fim de garantir a integridade das peças para o uso seguro como bem móvel resistente à manipulação expositiva’.
O documento foi elaborado no bojo do inquérito que apurava se o ex-presidente tentou se apropriar indevidamente dos presentes da Arábia Saudita ao invés de devolvê-los ao acervo da União. Nas últimas semanas, as investigações da Polícia Federal mostraram que a extensão do esquema seria maior, incluindo ainda a venda de presentes dados ao ex-chefe do Executivo por autoridades de outros Países.
Agora, a Polícia Federal segue na elaboração nos laudos de perícia de outros conjuntos de joias, no centro da Operação Lucas 12:2. Como mostrou o Estadão, a PF suspeita que Bolsonaro e seus principais assessores, entre eles o tenente coronel Mauro Cid, teriam usado um mesmo modus operandi para retirar do País pelo menos quatro conjuntos de presentes recebidos pelo ex-chefe do Executivo em viagens internacionais, enquanto líder de Estado.
Agência Estado