O fato: O economista Marcos Lisboa afirmou que a insegurança vista no mercado financeiro nos últimos tempos reflete uma série de decepções acumuladas desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Lisboa, os investidores estavam otimistas com o retorno de um governo fiscalmente responsável, semelhante ao primeiro mandato de Lula, mas os resultados ficaram aquém das expectativas.
“Houve grande otimismo de que seria um governo comprometido com a sustentabilidade fiscal, mas isso não se concretizou. No primeiro ano, o câmbio subiu, a curva de juros abriu e isso levou a perdas significativas para os investidores, que começaram a sair do Brasil”, explicou Lisboa durante o evento Onde Investir 2025, promovido pelo InfoMoney.
O cenário atual e os desafios do curto prazo: Lisboa destacou que, apesar de indicadores econômicos favoráveis, como a recuperação da atividade e do emprego, a crescente dívida pública preocupa o mercado. Ele apontou que limitar o crescimento dos gastos públicos é essencial para garantir uma trajetória de juros mais baixa e um ambiente econômico saudável.
“O arcabouço fiscal aprovado não resolve os problemas. Desde a apresentação inicial, já sabíamos que ele não se sustentava. A descrença atual é reflexo de um otimismo inicial que ignorou a realidade fiscal do país”, analisou.
Segundo o economista, o desafio imediato é evitar o descontrole fiscal e trazer previsibilidade para o mercado. Lisboa reforçou que, embora cortes profundos nos gastos públicos sejam inviáveis devido às restrições legais, controlar o crescimento das despesas é um caminho viável e necessário.
Problemas estruturais e volatilidade econômica: Além das questões de curto prazo, Lisboa apontou problemas de longo prazo que afetam o crescimento sustentável do Brasil. Ele destacou a alta volatilidade econômica, a insegurança regulatória e a complexidade do sistema tributário como os principais entraves ao desenvolvimento.
“Nos últimos 40 anos, tivemos 26 anos de crescimento moderado, mas também 14 anos de recessão, que foram mais severas do que em outros países emergentes. Precisamos garantir segurança regulatória e modernizar nosso sistema tributário para reduzir essa volatilidade”, afirmou.
O economista elogiou o trabalho do Ministério dos Transportes nas concessões de infraestrutura, mas criticou a falta de avanços em áreas como a reforma tributária. “Enquanto avançamos em setores como infraestrutura, na questão tributária ainda estamos presos a medidas oportunistas e mudanças constantes, o que gera insegurança”, disse.
Tributação e distorções: Lisboa também destacou a necessidade de discutir a tributação sobre renda de forma técnica e aprofundada. Ele criticou a polarização do debate e alertou para as distorções no sistema tributário brasileiro, como a confusão entre o tamanho das empresas e o perfil dos acionistas.
“Empresas grandes muitas vezes têm pequenos investidores, como fundos de pensão, enquanto empresas menores podem ter acionistas concentrados. Isso gera distorções e prejudica o crescimento econômico”, explicou.
Perspectivas para o futuro:Apesar dos desafios, Lisboa acredita que o Brasil tem potencial para atrair investimentos e crescer de forma sustentável. No entanto, ele reforçou que isso exige compromisso com a estabilidade fiscal, segurança regulatória e reformas estruturais de longo prazo.
“O governo merece descrença, mas o país não. Há oportunidades imensas no Brasil, mas é preciso superar a volatilidade e garantir condições para que o país avance”, concluiu.
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