Por Igor Macedo de Lucena
Nos últimos dias assistimos na prática o que é o Realismo nas relações internacionais, onde os interesses nacionais de segurança e as relações políticas estão acima das relações puramente comerciais e principalmente dos órgãos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio e as Nações Unidas, que neste momento estão extremamente fragilizadas.
As tarifas que estarão entrando em vigor em desfavor das exportações do Ceará para os Estados Unidos não é um evento isolado, mas apenas o primeiro de muitos embates geoeconómicos que o Ceará vai enfrentar nos próximos anos. Estamos em uma guerra internacional, mas as armas que as nações usam não são exércitos nem navios, e sim econômicas e financeiras.
A disputa por recursos naturais, mercados consumidores e fontes de energia formam as bases dos conflitos geoeconómicos globais, e como todos nós estamos vendo, estamos no meio deste conflito. Cabe a nós, agora, decidirmos se seremos apenas vitimas neste conflito com a perda de investimentos, empregos e clientes ou vamos participar ativamente dele, e não há terceira opção.
Entretanto, como toda guerra, precisamos entender que armas possuímos e qual estratégia traçamos. Antes de mais nada é importante ressaltar o trabalho hercúleo da secretária estadual Roseane Medeiros e do secretário municipal João Bosco Monte, os quais cuidam das pastas de relações internacionais com recursos limitados, mas uma luta incansável, a qual posso acompanhar. Essas pastas precisam ser valorizadas e se tornar tão importantes quanto Saúde ou Segurança, se queremos passar de vítimas para agentes nos conflitos globais.
Para uma política de Saúde efetiva são precisos médicos, da mesma maneira que é preciso policiais para a política de segurança. Neste caso é preciso de diplomatas (ou agentes internacionais) para uma política geoeconómica séria no estado do Ceará. Contudo, não há nenhuma universidade a oferecer tal curso de graduação, o que valeria uma análise célere do ministro Camilo Santana por trabalhar em uma abertura na UFC ou na UECE. Vale lembrar que o ex-diretor da FEAACS-UFC, professor Dr. Paulo Matos já colocou o embrião deste curso em gestação, que infelizmente não se tornou prioridade da atual gestão, mas deve tornar a sê-lo, sob o risco de continuarmos em uma guerra, sem soldados.
Outro ponto fundamental é entendermos quais os softpowers que o Ceará possui neste momento e como podemos utilizá-los a nosso favor. Relato aqui a presença de diversos consulados e consulados honorários os quais podem abrir portas e ajudar a impedir que novas crises acontecam, se forem corretamente articulados. Mais do que isso, é preciso transformar o Ceará em um Hub de conexões consulares e influenciar outras nações para fincar em Fortaleza suas representações para o nordeste.
Não se pode desprezar Brasília e o Itamaraty como importantes agentes na diplomacia internacional. Entretanto, esperar que eles tenham o mesmo empenho que possuem por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e os estados mais ricos e industrializados da federação é ingenuidade.
O Ceará precisa de uma política de paradiplomacia ativa focada no comércio, nos empregos e nos investimentos. Essa visão não é algo novo no mundo, mas inédito por aqui, e tal qual a história se repete, mudam-se apenas personagens e os locais. Se Torino esperasse por Roma para tocar sua política industrial, hoje a Fiat não seria o que é do ponto de vista de potência econômica. Da mesma maneira, Quebec não espera Ottawa para buscar seus próprios interesses no dia a dia.
O pensamento que temos do Ceará não pode ser apenas de um local de oportunidades, mas uma terra valiosa onde outros agente não tem interesse de ver prosperar, já que atrapalha seus próprios territórios e interesses. Precisamos olhar para fora e estar fora do Ceará para nos conectar com novos parceiros por meio dos Investment Offices nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa. A necessidade desses escritórios é fundamental para termos um importante instrumento de influência que deve ser compartilhada entre o Estado do Ceará, a prefeitura de Fortaleza e a Região Metropolitana.
Dentre outras ações é preciso que exista um engajamento no uso da língua inglesa em documentos oficiais e na sinalização pública, na integração das malhas, no parque tecnológico e na facilitação de IDE, na participação das redes globais bem como nas Free Trade Zones.
Essa crise que estamos assistindo é apenas a primeira de muitas que virão, e que infelizmente fomos pegues com as “calças nas mãos”. Esse artigo é, também uma importante reflexão dirigida ao governador Elmano de Freitas e ao prefeito Evandro Leitão para que possam entender que relações internacionais não são mais um elemento puramente protocolar, e que se não for adereçado de maneira correta, agora vai custar empregos, renda, e votos.
A consequência de não fazer nada destas ações aqui destacadas será continuar a sermos atacados por nações e estados mais poderosos, prejudicando nossas exportações, diminuindo nossas possibilidades de expansão, reduzindo os investimentos estrangeiros no Ceará e custando empregos e renda dos cearenses.
Fica o questionamento a nós, cearenses: Queremos continuar como vítimas neste novo conflito internacional, ou vamos revidar e participar como agentes ativos? A solução está a nossa disposição, basta que queiramos entender e aplicar.
