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A economia, ainda!

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Por Dimas Oliveira

Especial para o Focus

Com o aumento de três milhões de famílias assistidas pelo Auxilio Brasil, passando de 14 para mais de 17 milhões, além do incremento do próprio beneficio, alcançando o patamar de R$ 400 mensais, o presidente Jair Bolsonaro pretende oferecer a população benefícios de amplo impacto, dobrando a aposta de que chegará ao segundo turno.

Alem dessas benesses, outras estão no forno para serem oferecidas em breve. Dentre elas, linha de credito de até R$ 100 bilhões para pequenas e micro-empresas, microcrédito de até R$3 mil para informais, isenção de IPI para deficientes e taxistas, e aumento dos subsídios ao programa de moradia popular. No pacote, 100 milhões de reais, destinados para a habitação dos profissionais da área de segurança, já aprovada no Senado.

A equipe eleitoral do presidente acredita que, independentemente dos avisos sobre os perigos para o equilíbrio das contas, os riscos valem a pena. O que importa é não ceder espaço que possibilite a Ciro Gomes ou Sérgio Moro ocupar o lugar do mesmo na disputa. E apesar da alta taxa de rejeição orbitar em torno de 50%, a preferência de 20% do eleitorado não apresenta sinais de recuo.

Nas redes sociais, palco até há pouco tempo dominado pelo presidente, pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas com mais de 80 milhões de interações, incluindo os perfis oficiais de Lula, Ciro, Doria, Marina e outros, demostrou a queda do mesmo e o crescimento de Lula no Twitter- resultado em parte pela viagem a Europa – e Ciro no YouTube. A análise cobriu postagens durante todo o mês de novembro indo até o 19 de dezembro do ano passado. No entanto, ainda é cedo para análises mais assertivas.

Pressionado por esses números e pelo curto espaço de tempo, Ciro Gomes aposta na sua vasta experiência pública, legatário que é da mais disruptiva agenda de reforma estatal produzida no País, com Tasso a partir de 1986. O fato de não participar de nenhum dos grupos empresariais daquela empreitada, e ser fruto da politica tradicional que estes pretendiam sepultar, facilitou a sua reflexão futura sobre os limites e deficiências do discurso sobre a racionalidade gerencial.

Cedo entendeu que a  idéia de equilíbrio fiscal deve estar submetida a interesses sociais mais amplos, encontrando o seu limite quando se propõe a cortar ou suspender direitos sociais no presente, visando segurança no futuro. A teoria do bolo do ex Ministro Delfim Neto, de que antes de reparti-lo é necessário fazê-lo crescer.

Ao governar o Ceará, Estado profundamente impactado pelas desigualdades sociais, aprofundou a convicção contrária aos discursos que confundem gestão estatal com empresarial, retendo desta última apenas o que é capaz de favorecer a eficácia das políticas públicas. Como Ministro de Itamar Franco e Lula, alcançou por fim uma dimensão mais larga e complexa de quais decisões e variáveis são capazes de impactar a vida nacional.

Com visões que se unem e se repelem diante da dinâmica da vida social, identificou nos partidos políticos inteira incapacidade de se constituírem, isoladamente, no amálgama de um projeto de maior amplitude. Ou seja, aquela que ele mesmo acredita encarnar. Na prática, diante dos resultados que almeja, o processo de vida partidária aparece-lhe como totalmente subjacente. O concreto, a unidade partidária, já deveria expressar-se na própria gestão.

O resultado é conhecido, valendo-lhe críticas de que o desfile infindável de partidos corroboraria uma visão autoritária na relação com as divergências. A verdade é que, se esse descolamento pode ser sempre contornado, a ausência de experiências de vida orgânica prolongada lhe cobra um alto preço. Principalmente contra adversários como Lula.

Apostando na força das redes sociais, Ciro busca um discurso capaz de mediar interesses tanto a esquerda quanto ao centro, além de tentar deslocar bolsonaristas desiludidos através destas. Nesse processo, acentua sua crença na força da racionalidade, convocando números e planilhas, terreno movediço na medida em que a poesia da fala, pode encurtar entendimentos.

Disputando a mesma via, Sérgio Moro, tem a mente e corpo cimentados á idea sedutora da potestade estatal. Um candidato que tropeça na memória da toga. Não desconfia ou compreende a elementar questão que o projetou, fonte da sua força e também da sua fragilidade.

Vinda do passado, sua fala é um eco amplificado pelas intolerâncias do presente. Tardia e enfadonha repetição dos discursos do Partido dos Trabalhadores na sua feroz cruzada contra empresários e políticos. Corruptos todos, bastando para isso serem simplesmente adversários. O ex-xerife não percebeu, assim como a própria lava jato, que nunca passou de uma caricatura, um produto criado, ironicamente, pela organização que ele quis ilegalmente destruir. E não observando esse sutil detalhe não pode perceber também, o ocaso iminente das suas próprias ilusões.

Moro e seus pares, Dallagnol à frente, nunca esperaram que Lula estivesse livre a essa altura. O acaso, o acidental, o contingente, era para eles algo impossível, uma superstição sacerdotal, impossível de ser  causada naturalmente sem uma intervenção divina. Incapazes de perceber a ordem natural dos processos, se fiaram nos céus. Terá Deus ouvido as preces de Lula e enviado jovens hackers?

Enredados e frutos da mesma história, o Bolsonarismo e sua parteira, a lava jato, mãe que assombrou-se ao não reconhecer faces tucanas no seu bebê, se nutriram e cresceram na atmosfera que identificava na corrupção a origem de todos os males, legado vergonhoso construído poderosamente pela própria esquerda. Consequência imediata, o punitivismo apresentado como solução para problemas estruturais e o encarceramento divisado como remédio psicanalítico contra a velha sensação de impunidade.

Á evidência, não poderia ser outro o resultado quando se reduz a questão das desigualdades sociais ao discurso moral da luta contra a corrupção, ou da defesa do erário. O Bolsonarismo, constituído sobre essas bases fragmentadas, sem visão de totalidade, resistiu e cresceu, dificultando o estabelecimento de uma critica mais ampla. A verdade requer contexto, enquanto a mentira se nutre do fragmento. Nada melhor para ser usado no universo das redes sociais.

Decorre então que, ao surgir como solução para problemas estruturais, Bolsonaro não fez mais que apresentar questões de superfície no espaço público das polêmicas, conseguindo com isso desviar-se de debates de fundo, além de ter conseguido se desviar de denúncias de forte impacto publico, o que facilitou a imposição de pautas contrárias aos interresse sociais com tranquilidade, bastando para isso os revestimentos legais apropriados.

Usando de táticas diversionistas variadas, busca e consegue chamar a atenção dos adversários para pautas de costumes, debates sobre migalhas orçamentárias como a compra de leite condensado, diárias, rachadinhas, enquanto a famosa boiada, para usar o termo do ex ministro Ricardo Salles, vai passando, na maioria das vezes revestidas de inteira legalidade.

O resultado final das eleições nos oferecerá enfim um quadro mais exato do Brasil, onde as ilusões de uma sociedade mais inclusiva e tolerante deverão decantar ao fundo por algum tempo. E apesar do esgarçamento do tecido social, tencionado por ódios e intolerâncias até o mais frágil nó da trama, parecer imune a reparos civilizatórios menos engenhosos, o leque e amplitude de alianças costuradas pelos partidos revelará a própria capacidade do capitalismo e da sociedade brasileira de se reinventarem.

 

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