Há exatos vinte anos, em 06 de junho de 2005, a publicação de uma entrevista concedida à jornalista Renata Lo Prete, cuja chamada ocupava o centro da capa da Folha de São Paulo, daria início a um das fases mais importantes e turbulentas da política brasileira.
Sob o título “PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson”, a entrevista cairia como uma bomba no colo do primeiro governo de Lula, ao informar ao distinto público que o governo estaria a comprar, no varejo, apoio parlamentar para importantes votações no Congresso Nacional. Era ninguém ninguém menos que Roberto Jefferson, velho conhecido da política e das revelações nada alvissareiras, quem insinuava atos nada republicanos pelo presidente Lula.
Daquele em diante, até que o ano acabasse, uma série quase ininterrupta de revelações tomaria as páginas de jornais e revistas impressas, o jornalismo televisivo e os discursos políticos Brasil a dentro. Até Jô Soares entraria na disputa pela audiência em torno do caso para, às quartas-feiras do ano de 2005, conversar sobre o assunto com as “Meninas do Jô“.
Partidos Políticos (à frente PT, PR, PTB, PMDB) e importantes nomes de seus quadros se veriam envolvidos, de um ou de outro, nas tramas do que se convencionou chamar, pela própria sugestão do petebista, de “Mensalão“, termo que marcaria, para a posteridade, a história do PT.
Cassações de parlamentares, demissões de ministros e assessores políticos, quebras de sigilos, ameaças de “surras no presidente Lula”, pedido de desculpas de Lula sob lágrimas e até assessora parlamentar que atuava na CPI dos Correios pousando nua: aqueles meses tiveram de tudo um pouco.
Vários livros e trabalhos acadêmicos foram publicados sobre o assunto, especialmente destacando o papel desempenhado pela imprensa na cobertura daquele que, à época, fora nomeado como “o maior escândalo de corrupção de nossa história“.
Julgado apenas em 2012, quando Joaquim Barbosa presidia o STF, o “mensalão” entrou para a nossa história política.
Curiosamente, ainda em 2005, a cassação de Jefferson se deu por ele não ter conseguido provar a existência do “Mensalão” como mensalão, pagamentos mensais.
De lá para cá uma série de transformações que vieram para ficar: o antipetismo, especialmente alimentado pela associação irrestrita entre PT e corrupção; a espetacularização da política, por meio das CPI´s e das “entrevistas-bombas”; a judicialização da política e a politização do Judiciário, com a consequente entrada de atores do campo jurídico na política; o estreitamento da relação entre o Executivo e o Legislativo; a profissionalização do jornalismo político.
Todos esses temas serão tratados por mim, aqui, nos próximos dias.
Conto com sua leitura para tentar entender, junto comigo, um pouco daquela crise e de seus desdobramentos.